A Sagrada Família com um Passarinho, Bartolomé Esteban Murillo

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A Sagrada Família com um Passarinho, Bartolomé Esteban Murillo
   

Na história da arte e da literatura espanholas, o século 17 é o Século de Ouro, o século brilhante de glória cultural que faz da nação ibérica ponto de referência para compreender o esplendor, os projetos e as inquietações de uma época.

Todos os pintores espanhóis foram comparados a Velázquez, especialmente os formados na cidade, Sevilha, como Zurbarán, Murillo e Valdés Leal, cada um deles com a sua própria visão de mundo e com diferente sensibilidade.

Nas obras sacras, carregadas de intensa e apaixonada devoção, e nas da vida cotidiana popular, Murillo observa os protagonistas com afável e divertida cumplicidade, como sucede nesta cena doméstica.

A ambientação num interior humilde é sublinhada pelo caráter afetivo de um alegre interlúdio sem qualquer aura de sacralidade ou de elementos alusivos a um clima de suave e indulgente devoção. É uma descrição da vida familiar, na qual o pequeno Jesus brinca com um cão e um passarinho, ajudado por um pai na flor da vida e não, como na iconografia habitual, velho e de cabelo branco; num segundo plano, atarefada a fiar, Maria observa-os discretamente.

A tela mostra ainda a proximidade com as formas de Zurbarán e de Ribera na fonte de lua lateral, no forte contraste entre as zonas iluminadas e as zonas de penumbra, e na atenção aos fragmentos de natureza-morta.

A cena, sorridente e doméstica, poderia também ter um significado premonitório: o passarinho é, com efeito, um símbolo da Paixão de Cristo.

Arrumada num canto, está a cesta de vime com a roupa para coser. Os trabalhos de costura são as atividades domésticas desenvolvidas habitualmente por Maria que aqui enta fazer um novelo com o fio da roca. Este fragmento de natureza-morta de intenso sabor realista, mostra a sua aproximação inicial ao estilo de Caravaggio, conhecido também através da mediação de Ribera.

Como acontece frequentemente nas pinturas de Murillo, a inclusão de detalhes narrativos liga-se à concretização da situação representada: em segundo plano estão colocados o banco e as ferramentas de carpinteiro de José.

A atmosfera de intimidade cotidiana e a condição humilde iria alcançar a sua expressão máxima nos inúmeros quadros com as crianças pobres da rua que o artista começou a pintar nesta mesma época.

A Sagrada Família com um Passarinho, c.1650, óleo sobre tela, 144 x 188 cm, Bartolomé, Museu do Prado, Madri.

Agora que você sabe mais detalhes sobre esse quadro de Murillo, experimente fazer uma releitura dele ou crie um imagem que represente uma cena familiar doméstica, usando o material colorido que você mais gostar.

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