Frans Hals

Frans Hals
   

Frans Hals nasceu em Antuérpia entre 1581 e 1585, filho de Franchoys Hals, operário têxtil de Mechelen, e de Adriaentgen van Geertenrijck, de Antuérpia. Em 1591, eles se transferiram para Haarlem, importante centro da região norte do país. É provável que a família tenha se mudado para Haarlem quando a protestante Antuérpia caiu nas mãos das forças católicas espanholas.

A Espanha estabeleceu o catolicismo em Antuérpia e os protestantes tiveram o prazo de 5 anos para concluir seus negócios e abandonar a cidade. Em 1585, Franchoy se declarou católico, mas pode ter sido apenas uma tática. A mudança para Haarlem, no entanto, foi motivada principalmente por questões financeiras. Logo após a vitória espanhola os holandeses praticamente romperam os laços comerciais com Antuérpia com o bloqueio do rio Scheldt. Com a invasão, mais de 600 trabalhadores das tecelagens migraram com suas famílias para Haarlem, que possuía um ativo parque industrial têxtil. E os Hals, com certeza, estavam entre eles.

UM BREVE CASAMENTO

Os primeiros anos passados em Haarlem permanecem ainda um mistério. Um biografo anônimo do artista maneirista Karel van Mander incluiu o “retratista Frans Hals” na lista dos seus discípulos. Mas o próprio Van Mander jamais declarou ter ensinado a Hals, embora tivesse mencionado três outros alnos em seu Livro ds Pintores (Schilderboeck), publicado em 1604. Parece que Van Mander relutava em aceitar uma associação com Hals. Certamente os dois homens não tinham muitos pontos em comum, pelo menos no plano artístico.

A primeira referência documentada sobre Hals aparece em 1610, ano em que passou a integrar a Associação de São Lucas de Haarlem. Foi provavelmente nesse ano que se casou pela primeira vez. Sua mulher, Annetje Harmansdr, deu-lhe dois filhos. O casamento não durou muito, pois Annetje morreu em 1615. Foi enterrada como indigente – primeira indicação das dificuldades financeiras que iriam abalá-lo durante toda sua vida.

OITO FILHOS, MAIS DÍVIDAS

As primeiras obras de Hals também datam de 1610, quando tinha cerca de 30 anos. Mesmo considerando-se os inúmeros trabalhos desaparecidos do início da carreira, alguns fatos sugerem que Hals atingiu a maturidade artística relativamente tarde, pois foi só depois de 1616 que recebeu a primeira encomenda importante: um retrato de grupo que denominou Banquete dos Oficiais da Companhia Cívica de São Jorge. Haarlem possuía duas milícias, formadas em estrutura militar, mas exercendo uma função predominantemente social. Ficaram famosas por seus longos banquetes – 1621 foi criada uma lei que estipulava que esses banquetes deveriam durar no máximo três a quatro dias. Hals se filiou à milícia de São Jorge – uma exceção, pois os sócios desta pertenciam, na maioria, às classes dominantes. O pintor chegou a retratar-se entre os oficiais num quadro que pintou em 1639. Hals convivia bem com a milícia, e soube captar, nos quadros, a alegre camaradagem ali existente.

Hals casou-se novamente em 1617. Sua segunda mulher, Lysbeth Reyniers, era uma camponesa de temperamento explosivo e sabe-se que esteve envolvida em constantes brigas. Teve pelo menos, oito filhos com o artista, três dos quais também se tornariam pintores. Essa família em constante crescimento deve ter sido uma das causas das dificuldades financeiras de Hals. Embora um retratista de indubitável êxito. Hals não conseguia saldar suas dívidas e, por essa razão costumava fazer trabalhos eventuais de restauração de telas, além de negociar arte paa suprir as necessidades da família. E, 1616 foi chamado a um tribunal para esclarecer atrasos no pagamento do tutor de seus filhos do primeiro casamento. Durante a década de 1630 foi processado por seu senhorio e pelo sapateiro e, em 1654, um dos padeiros da cidade conseguiu confiscar sua propriedade em virtude do não pagamento de uma conta. Os bens que o  pintor salvou foram poucos: três camas, travesseiros, roupas brancas, um guarda-louças e uma mesa de carvalho, além de cinco quadros, inclusive um de Van Mander.

UM TEMPERAMENTO OBSTINADO

Hals tinha um caráter rebelde e independente. Em 1636, já atolado em problemas financeiros, recusou-se a concluir uma encomenda altamente lucrativa, a de retratar uma mlícia de Amsterdan, simplesmente porque não queria afastar-se de Haarlem em mesmo para uma viagem cruta até Amsterdam. Como os membros se recusaram a vir ao seu encontro, Hals abandonou os pincéis e o quadro teve que ser concluído por outro artista.

A família Hals carregava a marca da animosidade e do temperamento exaltado. E, 1608, um irmão de Frans, Joos, foi multado em Haarlem por insultar os guardas da cidade  e por apedrejar um transeunte. Mais tarde, por volta de 1640, Sara, filha de Frans, foi internada num reformatório para uma reeducação moral – segundo os padrões da época – pois dera à luz um filho ilegítimo. E parece que Hals, além disso, bebia demais.

Os anos de 1630 foram os mais bem-sucedidos para o pintor. Por essa época ele vivia absorvido com inúmeras encomendas de retratos, tanto individuais como em grupos, e recebeu uma proposta para pintar mais três peças para a milícia. Seus modelos incluíam – governantes, conselheiros, comerciantes, intelectuais e membros da guarda-civil. Por volta de 1649, ele começou um retrato famoso do filósofo francês René Descartes. Hals dirigia também, nessa ocasião, um estúdio de renome – onde jamais utilizou os alunos como assistentes. Poucos deles, por sinal, foram capazes de imitar seu estilo singular. De qualquer forma, entre esses discípulos estavam alguns dos mais famosos nomes da pintura holandesa, como seu irmão Dirck e o brilhante Adriaen Brouwer. A talentosa Judith Leyster também sofreu influência de Hals e possivelmente foi sua aluna.

NOVAS DIFICULDADES FINANCEIRAS

O êxito artístico de Fans Hals prosseguiu até o fim de seus dias, mas as encomendas sofreram um aligeira queda a partir de 1640 – talvez um reflexo do crescente entusiasmo, entre os holandeses, pelo estilo elegante de Van Dyck. Apesar do sucesso, porém, ele não se livrara dos problemas financeiros. Em 1661, a Ordem de São Lucas isentou-o do pagamento de seus débitos e em 1662 ele teve que pedir ajuda aos conselheiros da cidade. A partir do ano seguinte, passou a receber um subsídio anual de 200 florins, e em 1664 dera-lhe três carregamentos de turfa, um material combustível, para acender o fogo nas noites de inverno.

Velho, com quase 80 anos, Hals não abandonou os pincéis. Sua mão ainda era firme e a disposição não lhe fugia. É durante os último anos que produz alguns de suas melhores retratos, como As Regentes do Asilo de Velhos (1664), com uma impressionante visão da velhice. Hals esperava a morte, seus personagens também. Aqui, as mulheres apenas parecem aguardar que  o tempo se escoe. As pinceladas soltas anunciam o dramaticamente a destruição da matéria. Hals morre com mais de 80 anos, a 29 de agosto de 1666. Os holandeses sepultaram seus restos mortais na Catedral de São Bravo, em Haarlem.

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