Jacques-Louis David

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Jacques-Louis David
   

Jacques-Louis David nasceu em Paris, a 30 de agosto de 1748. Seu pai, descendente de uma família pequeno-burguesa tradicionalmente ligada ao comércio, morreu num duelo em 1757. Deixou o filho, então com 9 anos de idade, em situação econômica estável, legando-lhe ainda o temperamento apaixonado.

Após a morte do pai, David ficou sob a custódia de dois tios, Jacques Buron e, depois, Pierre Desmaison, ambos arquitetos. Por insistência da mãe, foi inicialmente treinado na profissão dos tios, mas em 1765, devido à própria insistência, voltou-se para seu objetivo único e imutável: a pintura. Nesse momento David mostrava-se inclinado a trabalhar com um primo distante, o artista rococó François Boucher, pintor da voluptuosidade galante, bem ao gosto da corte. Boucher, no entanto, recomendou-lhe que estudasse com Joseph Marie Vien. Alertava-0, porém que Vien era “um bom pintor e um bom professor, mas um pouco frio”. E completava sua observação com um convite para que fosse vê-lo de vez em quando, “e eu lhe ensinarei o meu calor”.

Na verdade, Vien estava familiarizado com a filosofia de Johann Winckelmann, o teórico neoclássico que defendia uma volta ao estilo e aos temas da Antiguidade; assim, encorajou o jovem David a inspirar-se nos temas clássicos. Era um caminho oposto ao que certamente percorreria em companhia de Boucher, e que acabou por alimentar em David uma retidão moral austera, quase puritana. Esta seriedade precoce iria moderar qualquer arroubo juvenil e o encaminharia para os livros de história – em particular Plutarco e a evocação das eras dos heróis da Grécia Antiga e de Roma.

Talvez por isso, com os olhos sonhadoramente voltados para a Cidade Eterna, David submeteu o quadro O Combate de Marte e Minerva à Academia Francesa, esperando conquistar o tão cobiçado Prêmio de Roma – que permitia ao premiado passar um ano na capital italiana às custas da Casa Real. Mas fracassou, e fracassou ainda outras duas vezes; mortificado pelo terceiro fracasso, foi encontrado desmaiado em seu quarto, disposto a morrer de fome. No entanto, conseguiu reunir forças para uma quarta e bem-sucedida tentativa em 1774, conquistando o prêmio com o quadro Antíoco e Estratonice. Desmaiou ao receber a notícia. Sua vida toda, aliás, iria oscilar entre euforias e depressões emocionais.

IMPACTADO POR ROMA

Em outubro de 1775, David viajou para Roma em companhia de Vien, que, por sua vez, iria assumir o posto de diretor da sede romana da Academia Francesa.

David fora encorajado a pintar temas clássicos, mas seus trabalhos ainda conservavam muito do estilo rococó, e não parecia preparado para a avassaladora experiência direta da Antiguidade: deixara a França decretando, como era de seu feitio, que “o Antigo não irá seduzir-me”. Mas foi fulminado pela riqueza da escultura antiga, e mergulharia depois em desespero ao pensar na trivialidade de seus primeiros trabalhos. Além da escultura, David encantou-se particularmente com as pinturas de Reni Domenichino, Caravaggio, Ribera, Michelangelo, Poussin e de Rafael.

Deixou a Itália em 1780. Dessa longa temporada resultou o desenvolvimento de um senso de nobreza e um engrandecimento espiritual que seriam imediatamente visíveis em sua obra. Os quadros que exibiu no Salão de Paris em 1781 foram recebidos com entusiasmo; em 1783 incumbiu-se de cinco alunos, entre eles Gros, para quem David foi uma especie de mentor e de afetuosa figura paterna. Esse período de sucesso coincidiu com uma fase de estabilidade doméstica; em 1782 ele se casara com Charlotte Pécoul, que herdaria um generoso dote.

Ao exibir o quadro O Juramento dos Horácios, em 1784, David afirmou-se como o pintor mais progressista e influente da França. Seu estilo novo, de inspiração romana, destacava nesse quadro de grandes proporções a severidade moral; foi, portanto, especialmente admirado, sobretudo pelos filósofos que condenavam a superficialidade e a degradação da arte rococó francesa.

Vivia-se um tempo de crescente inquietação social, coma corte e a aristocracia cada vez mais impopulares. Nessas circunstâncias, os temas do dever, do patriotismo e da luta heroica pela liberdade, presentes no quadro de David, provocaram ressonâncias políticas, fazendo com que o público parisiense decifrasse nessa tela uma mensagem radicada no presente. A Revolução estava no ar. Mas David, embora fosse contra o Antigo Regime, durante esse período não era, na verdade, um artista político.

Em 1789 eclodiu a Revolução Francesa e tudo mudaria radicalmente. Além de utilizar sua arte como propaganda política, iniciou uma ativa carreira política: apoiou Robespierre e o Clube Jacobino de extrema esquerda e elegeu-se deputado para a Convenção Nacional de 1792, chegando a ser presidente em 1794. No entanto, mesmo aliado à causa revolucionária, David sustou muitos de seus excessos, salvou da guilhotina alguns artistas condenados pela ira da insurreição  e não denunciou nem traiu conhecidos seus.

Foi também membro do Comitê de Arte e do Comitê de Instrução Pública. Nesse momento, a pintura passou a ser reconhecida como patriótica, republicana e educadora.

REVOLUCIONÁRIO ARROJADO

Além da política e da pintura, David encontrava tempo para coordenar marchas e festas revolucionárias. Dedicou-se com energia à dissolução da Academia Francesa. Conseguiu seu intento em 1793, a Academia era substituída pela Sociedade Popular e Republicana das Artes.Apenas seis meses antes, ele também votara pela morte do rei.

Tais atividades feriam os sentimentos da esposa de David, que era monarquista e, em fevereiro de 1794, o casal estava divorciado. Além desse, um golpe inesperado quase o aniquilaria: caiu Robespierre, que para David era mais que um herói, era um amigo. Num gesto simbólico, mas precipitado, ele se ofereceu para beber cicuta com Robespierre.

Em agosto desse mesmo ano, o próprio David seria detido: esse apoio tivera seu preço, e ele ficou seis meses preso, acusado de traição. Sentiu-se completamente dilacerado e confuso, pois tudo o que desejara fora dedicar seus serviços à causa revolucionária. Acabou sendo libertado graças à intervenção de sua mulher; em 1796, eles voltaram a se casar.

Livre, David isolou-se numa fazenda que comprara nos arredores de Paris. Até 1799, porque, nesse ano, o golpe de Napoleão o arrebatou novamente, numa enxurrada de honrarias. Dois anos antes, David fixara seus traços num esboço e, em 1800, definiu sua imagem heroica em O Retrato Equestre de Bonaparte no Monte Saint-Bernard. Uma profunda afinidade criou-se entre eles: o militar sedento de glória e o artista sedento de um ídolo. David dizia “Eu me insinuarei na posteridade à sombra do meu herói”. Nomeado Primeiro Pintor do Imperador em dezembro de 1804, foi encarregado de retratar as cenas principais da festa de coroação.

LONGE DA FRANÇA PARA SEMPRE

David planejava uma série de pinturas em grandes dimensões, mas só completou duas delas: A Coroação de Napoleão e Josefina e A Distribuição das Águias. Foi uma época gloriosa, mas sem amanhã, pois apesar de seu renome internacional e de inúmeras tentativas, não conseguiu os cargos que pretendia. Inconformado, abandonou os trabalhos e o mundo oficial. Além disso, embora Napoleão o admirasse, sentia-e também atraído pelo romantismo de Gros, o aluno de David, e era Gros quem estava a seu lado nas campanhas militares. David, na verdade, declinara dessa honra, mesmo porque nunca aprovou a política napoleônica de pilhar tesouros artísticos italianos. Mas continuava fiel a seu ídolo.

Com a Restauração, que trouxe a derrota a Napoleão, em 1815, e o obrigou ao exílio. David correu perigo novamente. Assinara um documento em que se declarava inimigo do Estado se Napoleão caísse do poder, e fugira para a Suíça. Restaurada a monarquia dos Bourbons em 1816, exilou-se definitivamente em Bruxelas.

Seus últimos anos foram calmos e sem realizações. Sentia-se menosprezado por estar no exílio; ao mesmo tempo se recusava a voltar, embora seus alunos fizessem campanhas para isso. Recusou refúgio na corte do rei Frederico III da Prússia e também recusou-se a pintar o Duque de Wellington.

Em certa noite de fevereiro de 1824 foi atropelado por um tílburi (pequena carruagem para duas pessoas puxada por apenas um animal) quando voltava do teatro e jamais se recuperou do acidente. Seu declínio físico culminaria com sua morte em 29 de dezembro de 1825. Negada a permissão para que se transladasse seu corpo par a França que ele tanto amara, David foi sepultado na Igreja de Santo Gudula, em Bruxelas.

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