Os Embaixadores, Hans Holbein, o Jovem

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Os Embaixadores, Hans Holbein, o Jovem
   

Holbein destacou-se nos retratos, uma especialidade que podia trazer a um artista riqueza, fama e status social. Os melhores retratos tinham uma mistura sutil de realismo e idealismo (ou adulação); juntamente com as indicações fornecidas pelos objetos e pelos gestos, davam uma boa noção da personalidade e do status da pessoa representada.

Neste grande quadro (as duas figuras, como aliás todos os outros objetos, são de tamanho natural), Holbein dá prova da sua incrível maestria mimética. As duas personagens são os retratos verdadeiros de Jean de Dinteville e Georges de Selve, ambos enviados como embaixadores do rei francês Francisco I à corte inglesa do rei Henrique VIII.

O quadro foi pintado em Londres, onde os embaixadores tinham a difícil missão e proteger os interesses do seu país e tentar impedir que os ingleses se separassem da Igreja de Roma. Essa época foi profundamente conturbada na Europa, e Holbein revela muito mais do que aparece à primeira vista.

O embaixador à esquerda é Jean de Dinteville, que encomendou este quadro retratando a si mesmo com seu amigo Georges de Selve, que visitou a Inglaterra em abril de 1533. Dinteville usa uma corrente com um medalhão da Ordem de São Miguel, uma das mais ambicionadas ordens da cavalaria, fundada na França por Luís XI em 1469.

Dinteville repousa a mão direita numa adaga com a inscrição latina AET.SVAE 29, indicando que o modelo tinha 29 anos de idade.

O globo terrestre foi posicionado de forma a mostrar os países que eram importantes para Dinteville. Copiado de um globo verdadeiro, Holbein modificou sua reprodução para incluir detalhes, como o nome do castelo de Dinteville, Polisy (perto de Troyes). O globo celeste poder ser uma referência à obra revolucionária de Copérnico, que afirmava ser o Sol, e não a Terra, o centro do sistema solar. As consequências intelectuais e eclesiásticas dessa afirmação foram profundas e perturbadoras.

Atrás da cortina verde de brocado, no canto esquerdo superior, há um crucifixo. Ele indica a presença de Cristo, que preside o destino dos embaixadores, seus esforços intelectuais e seus interesses nacionais. Está ali também como um lembrete do inescapável pecado da mortalidade dos homens.

Georges de Sebes fora eleito bispo de Lavau, na França. seu braço direito repousa num livro em cuja margem está escrito AETATIS SVAE 25 (“Sua idade é 25”). Junto ao braço direito de Selve há um relógio de sol com a data de 11 de abril de 1533, ponto crucial na vida dos embaixadores.

O alaúde, símbolo tradicional da harmonia, tem uma corda partida, sugerindo a discórdia crescente entre católicos e protestantes, que acabaria levando a terríveis guerras.

Junto ao alaúde há um livro de hinos latinos, traduzidos para o alemão por Martinho Lutero, aberto numa página com Os Dez Mandamentos e Venha Espirito Santo. Já se sugeriu que ao escolher esses hinos, que expressam doutrinas aceitáveis a todos os cristãos, Holbein fez um pedido para que a Igreja se reformasse, tal como pediam os protestantes, mas sem dividir-se da Igreja de Roma.

A caveira que lança a sombra da morte no chão, era a insígnia pessoal de Jean de Dinteville (note que ele tem na boina um crânio de prata). Era um símbolo especialmente relevante devido à saúde extremamente frágil de Dinteville.

O livro que se vê aberto por um esquadro era uma nova publicação sobre aritmética aplicada. Ele indica que os embaixadores tinham uma educação ampla e um intelecto moderno.

A estranha forma ao pé da mesa não tem sentido se vista de frente, mas se olharmos a pintura do lado direito, a cerca de dois metros de distância mantendo o nível dos olhos nos embaixadores, essa forma se transforma num crânio. O artista utilizou a anamorfose, uma forma extrema de perspectiva. É uma técnica descrita pela primeira vez nas anotações de Leonardo da Vinci.

O desenho no chão é uma cópia exata do chão do Santuário da Abadia de Westminster. Esse mosaico deve ter causado uma forte impressão neste grande artista alemão durante sua estada na Inglaterra.

As crises referidas neste quadro eram tanto políticas como intelectuais. A autoridade da Igreja católica estava sendo contestada pelos protestantes, e velhas certezas intelectuais iam sendo solapadas por novas descobertas científicas. Holbein refere-se a ambas, e coloca os seus embaixadores como pensadores principais nessas duas crises.

A semana da Páscoa de 1533 foi o momento em que a Inglaterra de fato separou-se da Igreja católica estabeleceu a Igreja anglicana, tendo como chefe o seu monarca, e não o papa. A causa imediata foi a relutância do papa em conceder a Henrique VIII o divórcio de sua primeira esposa, Catarina de Aragão, para poder casar-se com Ana Bolena; o rei esperava que ela estivesse grávida e pudesse dar-lhe o filho e herdeiro que ele tanto almejava. Essa missão específica dos embaixadores falhou, e a cisão que ocorreu na Igreja resultou em uma Europa fragmentada e em anos de conflito,cujas consequências persistem ainda hoje.

Hans Holbein, o Jovem, começou o seu aprendizado com seu pai Hans Holbein, o Velho, na cidade de Augsburgo, na sua Alemanha natal. E, 1515 mudou-se para a Basileia, na Suíça, e tornou-se o principal pintor da cidade, executando grandes encomendas e também fazendo desenhos para os impressores. Em 1526 as crises causadas pela Reforma levaram Holbein a fazer sua primeira visita à Inglaterra. Deixou então sua família e em 1532 mudou-se para a Inglaterra, onde passou a trabalhar regularmente para a Corte inglesa.

Os Embaixadores, 1533, óleo sobre madeira, 207 x 10 cm, Hans Holbein, o Jovem, National Gallery, Londres.

Agora que você sabe mais detalhes sobre esse quadro do artista Hans Holbein, o Jovem, experimente fazer uma releitura dele ou criar um retrato que contenha detalhes, como objetos e símbolos, que revelem a personalidade e gostos do retratado.

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