O que caracteriza uma obra-prima?

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O que caracteriza uma obra-prima?
   

A função e o objetivo de uma grande obra de arte, as expectativas nela depositadas e o papel do artista não são constantes; variam conforme a época e a sociedade. Contudo, algumas obras se destacam por terem a capacidade de falar de algo além da sua própria época e oferecerem uma inspiração e um significado que atravessam os tempos.

Antes da Renascença, o artista era considerado basicamente um artesão, e uma obra-prima era um trabalho submetido à corporação profissional como prova de que ele dominava as habilidades técnicas necessárias. Contudo, os grandes mestres da Renascença propuseram que o artista deveria ser julgado mais pelas suas qualidades de intelecto e imaginação do que por sua perícia manual. Hoje, o conceito de obra-prima está estreitamente ligado ao de um grande museu, onde os tesouros artísticos são exibidos para que todos possam vê-los.

Destacamos algumas características que nos levam a uma obra-prima:

Virtuosismo técnico: ao julgar qualquer desempenho excepcional, seja de um atleta, músico, ator ou artista, a habilidade técnica é uma das primeiras considerações. Um grande artista deve ter completa maestria das habilidades físicas requeridas, mais o conhecimento e a imaginação para fazer essas habilidades e as regras artísticas existentes atingirem novos limites. O verdadeiro virtuosismo faz com que essa competência pareça ilusoriamente natural e simples.

Inovação: a partir da Renascença, a sociedade ocidental vem buscando, louvando e recompensando a inovação. Ser o primeiro em qualquer empreendimento significa ser lembrado como uma figura-chave na História. Giotto e Picasso são considerados gigantes da arte europeia porque conseguirem reescrever as regras da arte e oferecer uma alternativa à linguagem visual existente. Muitos artistas posteriores desenvolveram-se e construíram sua arte com base nas conquistas desses gigantes.

Patrocínio: antes do século 19 e do desenvolvimento do moderno comércio de arte, a maioria das grandes obras era encomendada por um patrono, que em geral determinava condições específicas ou tinha um papel ativo na definição do tema e da aparência da obra. Antes da época moderna os maiores patrocinadores eram a Igreja católica e as cortes reais da Europa. Só depois do Romantismo é que surgiu o papel do artista como um indivíduo solitário.

Visão artística: poucos artistas podem sobreviver sem o apoio financeiro de patronos, comerciantes e colecionadores, porém esse tipo de apoio nem sempre garante a qualidade do trabalho produzido. A Capela Arena de Giotto ou o teto da Capela Sistina de Michelangelo são obras de arte verdadeiramente grandes porque expressam a crença total do artista e o seu emprenho em fazer o que lhe foi pedido – isto é, nos casos citados, realizar uma obra de arte digna do próprio Deus. A crença numa ideia e no poder da pintura de expressar essa ideia distinguem as obras-primas das demais obras. Sem essa crença e esse empenho, qualquer obra de arte, mesmo bem realizada tecnicamente, não passa de uma decoração e ilustração.

Papel do artista: um dos mitos mais persistentes é o do gênio que é desprezado em vida e cujo verdadeiro valor só é reconhecido muitos anos depois da sua morte. Isso raramente acontece, e apenas em circunstâncias muito especiais. Muito mais comum é o caso do artista que é louvado em sua época, porém, cinquenta anos depois, não passa de uma nota de rodapé na história da arte. Conclui-se que nem o aplauso popular, nem a rejeição garantem a fama no futuro.

Os artistas vivem e trabalham dentro de um contexto complexo, feito por patrocinadores, colecionadores, comerciantes, instituições de arte e outros artistas. Destacar-se  da multidão requer grande coragem e individualidade. Essas qualidades podem trazer sucesso a curto prazo, mas só aqueles dotados de uma visão profunda e que usam a arte não como um fim em si mas como um meio para dizer verdades maiores são os que conseguem criar as obras- primas que resistem ao julgamento do crítico mais severo de todos: o tempo.

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