Assim como o mito e a ciência são modos de organização da experiência humana – o primeiro baseado na emoção e o segundo, na razão, também a arte vai aparecer no mundo humano como forma de organização, como modo de transformar a experiência vivida em objeto de conhecimento, desta vez através do sentimento. A arte é um caso privilegiado de entendimento intuitivo do mundo, tanto para o artista que cria obras concretas e singulares, quanto para o apreciador que se entrega a elas para penetrar-lhes o sentido. Assim, como todo artista, ele percebe, pelo poder seletivo e interpretativo dos seus sentidos, formas que não podem ser nomeadas, que não podem ser reduzidas a um discurso verbal explicativo, pois elas precisam ser sentidas e não explicadas.
A educação em arte só pode propor um caminho: o da convivência com as obras de arte. Aquelas que estão assim rotuladas em museus e galerias, as que estão em praças públicas, as que estão em bancos, em repartições do governo, nas casas de amigos e conhecidos. Também aquelas, anônimas, que encontramos às vezes numa vitrina, numa feira, nas mãos de um artesão. As que em alguns cinemas, teatros, na televisão e no rádio. As que estão nas ruas: certos edifícios, casas, jardins, túmulos. Passamos por muitas delas, todos os dias, sem vê-las. Por isso, é preciso uma determinada intenção de procurá-las, de percebê-las.
Quanto mais ampla for essa convivência quanto aos tipos de arte, aos estilos, às épocas e aos artistas, melhor. É só através deste contato aberto que podemos afinar a nossa sensibilidade para as nuanças e sutilezas de cada obra, sem querer impor-lhe o nosso gosto e os nossos padrões subjetivos, que são marcados historicamente pela época e pelo lugar em que vivemos, bem como pela classe social a que pertencemos.
Em seguida precisamos aprender a sentir. Em nossa sociedade, dada a importância atribuída à racionalidade e à palavra, não é raro tentarmos, sempre, enquadrar a arte dentro desse tipo de perspectiva. Assumimos, então, tal distância da obra que não é possível recebê-la através do sentimento.
Por outro lado, o sentimento não é a emoção descabelada. Chorar ao assistir a um drama ou ouvir uma música não é sinal de que estejamos acolhendo a obra através do sentimento. Podemos estar fazendo uma purificação das nossas emoções. No sentimento, ao contrário, a emoção é despida de seu conteúdo material e elevada a um outro estado: retirado o peso da paixão, permanecem o movimento e as oscilações do sentir em comunhão com o objeto.
Finalmente, já fora da experiência estética podemos chegar ao nível da recepção crítica, da análise intelectual da obra, do julgamento do seu valor, que é o trabalho do crítico e do historiador de arte. Para essa tarefa, só a convivência com a obra não basta. É necessário o conhecimento histórico dos estilos, da linguagem de cada arte, além de um profundo conhecimento da cultura que gerou cada obra.
Concluindo, a arte não pode jamais ser a conceitualização abstrata do mundo. Ela é perfeição da realidade na medida em que cria formas sensíveis que interpretam o mundo, proporcionando o conhecimento por familiaridade com a experiência afetiva. Esse modo de apreensão do real alcança seus aspectos mais profundos, que pela sua própria imediaticidade não podem ser apresentados de outra forma.