Joan Miró

Joan Miró
   

Joan Miró nasceu no dia 20 de abril de 1893 em Barcelona. A família morava na Pasaje del Crédito, ruela estreita situada no coração da cidade, onde seu pai, Miguel, era proprietário ourives e relojoeiro. O talento para o artesanato também estava presente nos seus avós maternos, pois Dolores Ferrá, sua mãe, era filha de um exímio marceneiro. Desde os 7 anos de idade, Miró desenhava retratos e naturezas-mortas, mas seus pais viviam reprimindo suas ambições artísticas.

Em 1907, quando jovem Miró entrou para La Lonja, a Escola de Belas Artes de Barcelona, apesar de seu tutor enxergar certa originalidade nos seus trabalhos, os demais o achavam desajeitado para arte. Em 1910, Miguel forçou o filho a aceitar um emprego como guarda-livros de uma farmácia local. A monotonia do trabalho, em contraste com a efervescência artística nas suas veias, levou a uma profunda depressão nervosa, agravada por um ataque de febre tifoide.

Desesperados, os pais o enviaram para sua fazenda perto de Montroig, região montanhosa na Catalunha, para uma temporada de recuperação. O ambiente e a paisagem exerceram uma duradoura impressão no espírito dele e que seriam registrados na sua obra.

De volta a Barcelona, e já restabelecido. Miró não iria sofrer uma pressão cerrada contra sua escolha. Conseguiu autorização paterna para ingressar na escola de arte dirigida pelo artista Francisco Galí e juntou-se aos artistas do círculo de Sant Lluch. Em companhia dos novos e boêmios companheiros, Miró começou a frequentar os cafés e clubes noturnos, sem contudo partilhar do mesmo estilo de vida. Gostava de frequentar a galeria de arte de Joseph Dalmau, onde descobriu, fascinado, as pinturas fovistas e cubistas.

Seduzido por Paris

Em 1918, Dalmau ofereceu a Miró a oportunidade de fazer a primeira exposição individual. A resposta do público não foi satisfatória, mas o artista não se deixou abater, ciente de que o reconhecimento internacional e o sucesso que almejava só poderiam se conseguidos em Paris. A capital francesa exercia nele uma grande atração e, em 1919, no imediato pós-guerra, decidiu ir lá pela primeira vez. Nos anos seguintes passaria os invernos em Paris e verões em Montroig.

Paris era uma cidade estimulante, embora um tanto cruel para artistas pobres e obscuros. Uma das primeiras providências de Miró ao chegar foi procurar seu conterrâneo Picasso, que imediatamente comprou-lhe um autorretrato para incentivar o novo amigo. Sua situação financeira era crítica, pois a venda das suas telas não era fácil. Seus pais lhe enviavam pouco dinheiro para demonstrar que estavam descontentes com sua carreira.

Miró trabalhava num estúdio minúsculo e precário na rua Blomet, 45, perto de Montparnasse. Os vidros da janela estavam quebrados e o fogão não funcionava. Vivia num tal estado de penúria que só fazia uma única refeição satisfatória por semana.

Encontrava consolo junto ao círculo de intelectuais, poetas e pintores que conhecera por meio de seu vizinho André Masson. Paul Eluard, Louis Aragon, Robert Desnos, Antonin Artaud, André Breton e o próprio Masson reuniam-se frequentemente para discutir as ideias que Breton veiculava no primeiro Manifesto Surrealista de 1924.

Miró ficou fascinado com as tentativas daqueles artistas em explorar o subconsciente, quase sempre por meios artificiais e induzidos. Esses encontros estimularam Miró a abandonar a pintura da realidade cotidiana e a confiar mais na imaginação e nas sensações alucinatórias que experimentava quando passava fome. Ficava horas sentado, contemplando as paredes vazias do estúdio, desenhando as estranhas formas que lhe vinham à mente. Não tomava drogas, o que o tornava uma exceção no grupo, mas começou junto com os surrealistas, mostrando suas novas pinturas oníricas na galeria de Pierre Loeb e na Galeria Surrealista

Após o contrato com o negociante de arte Jacques Viot sua situação financeira melhorou. Viot conseguiu-lhe um estúdio em Montmartre, onde tinha como vizinhos Max Ernst, René Magritte e Jean Arp. Miró ficou muito amigo do grupo, em especial de Arp e Ernst.

Trabalhava compulsivamente, tornando-se cada vez mais reservado e misterioso em relação a suas telas. Mantinha-as viradas contra a parede, longe dos olhares curiosos de Ernst, que trabalhava no estúdio do andar superior. Certa noite, Ernst e mais alguns companheiros bêbados arrombaram seu estúdio  e vasculharam todas as telas para descobrir seus segredos. Em seguida, amarraram uma corda no pescoço de Miró e começaram a enforcá-lo, Miró, que estava sóbrio, conseguiu livrar-se deles e fugiu, desaparecendo por três dias.

Entretanto, as loucuras provocadas pela embriaguez de Ernst não foram suficientes para abalar a amizade entre ambos. Ocasionalmente trabalhavam juntos. Na época aceitaram um trabalho para desenhar o cenário e o guarda-roupas do balé Romeu e Julieta, com cenografia de Diaghilev, Breton desaprovou com veemência o envolvimento de ambos no que dizia ser o frívolo e burguês mundo do balé. Na noite de estreia, organizou uma manifestação contra os dois e os denunciou em sua revista, La Révolution Surréaliste. Miró, contudo, jamais compartilhou dos dogmas intelectuais ou da autoridade de Breton, preferindo manter-se a distância sempre que lhe conviesse.

Em 1928, iria à Holanda para conhecer os instigantes interiores burgueses pintados pelo holandeses do século 17, Vermeer em particular. Na volta trouxe consigo postais com reproduções, que utilizou como fonte de inspiração numa série de telas, onde distorceu e reordenou todos os elementos contidos no original, com bastante senso de humor. Logo depois, Miró iniciou uma série de colagens com material retirados do lixo.

Em 1929, com 36 anos de idade, Miró casou-se com Pilar Juncosa, vivendo um casamento harmônico. Dois anos depois, nascia sua filha Dolores. Entretanto, a década de 30 traria consigo traumas que se refletiriam em sua arte.

Por essa época, Miró passava a maior parte do tempo na Espanha, ada vez mais distante dos surrealistas em suas tentativas de se filiar ao Partido Comunista. Mas sua consciência social o alertava quanto à ameaça do fascismo. Seus quadros, aos quais denominou de pinturas selvagens, continha distorções violentas e monstros agressivos, numa terrível premonição de que a guerra estava chegando.

Guerra Civil

Em 1936, começou a guerra civil na Espanha e Miró se viu obrigado a voltar para Paris. No ano seguinte, desenhou o cartaz Ajude a Espanha ao preço de um franco, como contribuição aos espanhóis em sua luta pela liberdade. Pintou também O Ceifeiro para o governo republicano da Espanha, que seria exposto ao lado de Guernica de Picasso na Exposição Internacional de Paris, e a dramática Natureza-Morta com Sapato Velho, onde uma maçã simbolizando a Espanha é agressivamente espetada por um garfo com dentes em formato de baionetas.

Mas o problema trágico da Espanha seria eclipsado pela Segunda Guerra Mundial. Paris já não era mais um lugar seguro e Miró encontrou refúgio temporário numa pequena casa de campo perto de Varengeville-sur-Mer, na Normandia. Meses depois, os bombardeios ameaçaram Varengeville e Miró fugiu para o sul, via Paris, chegando à Espanha apenas alguns dias antes de os alemães marcharem sobre a capital francesa.

Fundação Maeght

Estabeleceu-se temporariamente em Maiorca. Em 1942, levou a família de volta a Barcelona. Sua fama internacional já era bem grande, sobretudo, nos Estados Unidos., onde esteve em 1947. Quando retornou a Paris, em 1948, realizou com sucesso uma exposição na Galeria Maeght. Querendo atingir o grande público, criou litogravuras, gravuras, desenhos e utensílios de uso popular, como vasos e pratos de cerâmica. Em 1954, ganhou o Grande Prêmio de Gravura da Bienal de Veneza.

Para enfrentar o grande volume de encomendas e ter tempo disponível para organização regular de exibições mundiais foi criada em 1964, em sua homenagem, a Fundação Maeght, em Saint-Paul-de-Vence. Passou as últimas duas décadas de sua vida deslocando-se de Montroig para Paris. E se necessitasse de isolamento, corria para seu imenso estúdio construído perto de Palma de Maiorca.

Até a data de sua morte, no dia 25 de dezembro de 1983, Miró trabalhou exaustivamente, aprendendo técnicas de monotipo quando contava já 84 anos. Aos 86 produziu seu primeiro vitral para a Fundação. Rico e famoso, esse modesto ancião permaneceu até o fim um homem simples, alheio às seduções da da celebridade.

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