John Constable

John Constable
   

Quarto filho de um rico negociante de trigo, John Constable, nasceu no vilarejo de East Bergholt, condado inglês de Suffolk, em 11 de junho de 1776. Desde criança revelou especial interesse pela paisagem que o rodeava: o plácido rio Stour, os extensos campos verdes, as atividades rurais, os diferentes aspectos do céu, os efeitos da luz.

Anos mais tarde, em 1821, escreveu: “Associo minha despreocupada infância a tudo que existe às margens do Stour. Foi o que fez de mim um pintor – e sou grato, quero dizer, pensei em tudo aquilo como quadros antes mesmo de pegar num lápis”.

E quando se animou a pegar num lápis para desenhar aspectos da paisagem de imediato recebeu atenção e o estímulo de seu professor, na escola primária de Dedham, vilarejo próximo a East Bergholt. Animado, passou a exercitar-se mais e mais e a acompanhar o pintor amador John Dunthorne em suas longas excursões pelo campo para elaborar esboços.

Com ele adquiriu não só as primeiras noções de pintura, mas também um método de trabalho que usaria pela vida afora: registrar determinado aspecto da paisagem sempre à mesma hora e interromper a pintura assim que a luz alterava para retomá-a no dia seguinte.

Ao perceber a vocação do filho, o negociante Golding Constable tentou desencorajá-lo, encaminhando-o, inicialmente, para a carreira eclesiástica. Diante do completo fracasso, resolveu treiná-lo para assumir a direção da empresa (o primogênito da prole era deficiente mental e, como segundo filho homem, caberia a John substituir o pai à frente dos negócios).

O jovem chegou a passar um ano num dos moinhos paternos, e aprendeu muita coisa sobre técnica de moagem, mas deixou bem claro que não pretendia dedicar-se a tal atividade.

Um encontro decisivo

Em 1795, John conheceu sir George Beaumont, pintor amador e colecionador de obras de arte. Em sua galeria contemplou trabalhos de mestres estrangeiros como o francês Claude Lorrain, cuja a pintura Hagar e o Anjo impressionou-o profundamente, tendo até, segundo alguns, influenciado de modo definitivo sua resolução de dedicar-se à pintura.

Apesar da relutância do pai, em fevereiro de 1799 o rapaz seguiu para Londres e, no mês seguinte, ingressou na escola da Real Academia. Frequentava as aulas com obstinada assiduidade, resignando-se a dedicar horas inteiras à tediosa elaboração de nus acadêmicos, que, entretanto, contribuíram para aperfeiçoar-lhe o sentido da forma.

Seu traço era pesado, difícil, hesitante, e ele próprio sentia que precisava esforçar-se muito para obter os resultados que desejava. “Não existe maneira fácil de alguém se tornar um bom pintor”, declarou certa vez.

Quando não estava na escola, lia muito, não só sobre pintura, mas também sobre física – particularmente óptica, para melhor lidar com a luz e as cores – e geologia – para compreender melhor a terra. E, quando não lia, exercitava-se no desenho, copiando obras de Ruisdael, Rembrandt e outros mestres.

Pouco sociável e relutante em fazer concessões, vivia praticamente solitário. Durante algum tempo, compartilhou moradia com um colega, Ramsay Richard Reinagle. Logo, porém, aborreceu-se com o rapaz, que usava de meios ilícitos – como o plágio – para conquistar espaço no mercado de arte.

Além da solidão, da saudade de casa, do desencanto com gente como Ramsay, da dificuldade em dominar sua técnica, Constable deprimia-se por aperceber-se, dia a dia, da baixa conta em que era tida a paisagem. Nem os acadêmicos, que afinal ditavam as normas estéticas, nem o público viam valor artístico na paisagem, aceitando-a apenas como pano de fundo para um retrato ou uma cena grandiosa de inspiração histórica, religiosa ou mitológica.

Esse tipo de cena e o retrato eram, aliás, os gêneros favoritos de artistas, críticos e colecionadores. O pintor sir Joshua Reynolds, primeiro presidente da Real Academia, dizia que a natureza comum não podia ser tema de grandes obras. Mas era justamente essa natureza que Constable queria pintar – e pintou -, porque via nela elementos nobres e belos, capazes de inspirar quadros inestimáveis, desde que o artista a reproduzisse com fidelidade e a amasse sem restrições.

Para completar a mesada que o pai lhe enviava, e tentando abrir caminho como profissional. Constable elaborou, por encomenda, alguns retratos e pinturas de caráter religioso. Sempre que podia, entretanto, voltava para a paisagem, para o amado vale do Stour, para os esboços ao ar livre.

Seus colegas não entendiam por que, pertencendo a uma família rica, não viajava para Paris, Amsterdã ou Viena, onde havia tantos tesouros artísticos e tanta efervescência cultural. Ele simplesmente não parecia interessado em trocar a tranquilidade e a beleza dos campos de Sunffolk pela agitação de qualquer cidade grande.

Ele nunca saiu da Inglaterra e, mesmo assim, não percorreu o país todo. Esteve nos condados de Derbyshire, Kent, Dorset e Wiltshire; visitou Brighton várias vezes e, em 1806, passeou pelo Lake District, região quase obrigatória para paisagistas. Embora se declarasse oprimido pelas montanhas e se sentisse pouco à vontade com a grandiosidade dos lagos, Constable fez ali vários óleos e aquarelas.

Um amor para sempre

Por volta de 1809, Constable já tinha certo domínio da técnica, mas estava longe de ser um artista de sucesso e praticamente vivia às custas da família. Nessa situação pouco confortável, apaixonou-se  por Maria Bicknell, doze anos mais jovem, filha de um alto funcionário público e neta do rico vigário de East Bergholt. Este, quando soube do namoro, ameaçou deserdar a moça, se insistisse em levá-lo adiante. Para não causar maiores atritos, os namorados tiveram de encontrar-se à escondidas e lançar mão dos mais diversos estratagemas para conseguir trocar correspondência, porém mantiveram-se rigorosamente fiéis um ao outro.

Às contrariedades profissionais somava-se agora a infelicidade no amor, e Constable, já propenso à reclusão, tornou-se mais fechado e irritadiço. Consciente de sua capacidade artística, avesso aos ditames acadêmicos, incapaz de adulação, encontrava grande dificuldade para vender seus quadros e não achava comprador para uma só de suas paisagens. Colecionadores, críticos e colegas não o viam com bons olhos – no que aliás eram plenamente correspondidos.

A difícil situação do artista agravou-se em 1815, com a morte da mãe, que sempre defendera seu direito de seguir sua própria vocação – embora o aconselhasse repetidas vezes a trocar a paisagem pelo retrato ou pelas cenas monumentais que tanto agradavam aos conservadores.

Mal se refazia do golpe, Constable sofreu outra grande perda: em maio de 1816 o pai falecera repentinamente. Abram, seu irmão mais novo, assumiu a direção dos moinhos e fiel à determinação paterna, passou a pagar o pintor uma pensão anual de duzentas libras. Não era uma fortuna, mas possibilitava o casamento com Maria, finalmente realizado em 2 de outubro em 1816. Nenhum membro da família da noiva compareceu à cerimônia, oficiada pelo reverendo John Fischer, um dos poucos amigo de Constable.

Depois de longa lua-de-mel em Osmington, perto da cidade costeira de Weymounth – onde o artista elaborou suas primeiras marinhas importantes -, o casal voltou para Londres em dezembro. No ano seguinte, Maria engravidou, porém logo perdeu a criança. Atribuindo o aborto à vida pouco saudável que levavam, o pintor mudou-se para uma casa maior e mais afastada da poluição de Londres. Foi nessa nova residência que, em 1817, nasceu o primeiro filho.

Dois anos depois, a Real Academia dignou-se a receber Constable como membro associado e seus quadros passaram a ser vistos com maior frequência nas concorridas mostras promovidas pela instituição. Mesmo assim, ele não vendia o bastante para viver de pintura, e até o começo da década de 1830 ganhava por ano o que muitos colegas de menor talento recebiam por um único quadro.

Um golpe arrasador

A delicada saúde de Maria piorava de ano para ano, e, em 1821, sempre à procura de ar mais puro e espaços maiores, o pintor transferiu-se com a família para Hampstead, na época um região agrícola pouco distante de Londres, que lhe inspirou alguns de seus melhores trabalhos.

Enquanto Maria definhava, evidenciando-se os sintomas da tuberculose que a mataria, Constable finalmente começava a obter alguns sucesso. Seu quadro A Caroça de Feno recebeu medalha de ouro no Salão de Paris em 1824, chamando a atenção dos franceses para sua obra e aumentando a cotação de suas telas no mercado inglês. Conta-se que o quadro foi enviado à mostra parisiense sem o conhecimento do autor, que, ao saber da premiação, recusou-a, explicando, em curtas palavras, que não a havia pleiteado e, portanto, não se via na obrigação de recebê-la.

Mais interessado na saúde da mulher que em honrarias ou venda de quadros, no mesmo ano de 1824 Constable mandou a família para Brighton, um balneário da moda, onde o clima era mais quente. Ele próprio viveu ali durante algumas temporadas, realizando marinhas preciosas.

Em janeiro de 1828, Maria deu à luz seu sétimo filho. Pouco depois, recebeu a notícia do falecimento do pai – perda que a abalou profundamente, mas deixou-lhe uma fortuna que pôs fim às preocupações financeiras do casal. Em novembro, Maria faleceu. “A face do mundo mudou totalmente para mim”, Constable escreveu para o irmão.

Continuou pintando, mas sem o velho entusiasmo. E não parece ter exultado, quando soube que por fim a Real Academia o elegia – por um único voto – membro vitalício. Pouca coisa lhe interessava, além dos filhos e do trabalho. Na noite de 31 de março de 1837, faleceu repentinamente, vitimando por um ataque do coração, e foi sepultado ao lado da esposa.

 

3 comentários em “John Constable”.

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  1. Tenho uma obra mediúnica assinado com o nome dele, trata-se de uma paisagem marítima, as cores fortes e os traços grossos, lembra muito seu estilo.

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