A forma típica sob a qual a arte egípcia representava um objeto é por meio de uma montagem dos seus aspectos mais característicos, compreendida num enquadramento que fornecia ele próprio grande parte da informação necessária.
Os vários aspectos eram representados sem escorço, o que significa que as formas retilíneas eram apresentadas com precisão. Num tal, esquema a parte da frente e o lado de uma caixa, por exemplo, podiam muito bem estar ao lado um do outro. Assim, a parte de um objeto que não estaria visível na realidade pode ser representada em falsa transparência ou o conteúdo de algo pode ser apresentado por cima dele. O número de partes representadas e a sua escolha dependem da informação a transmitir, mais do que de considerações de ordem visual.
O melhor exemplo de representação de um único objeto é a forma humana, que é um composto complicado. A descrição aqui feita é a da figura de pé, em repouso, havendo muitas variações possíveis de pose e de pormenor. O tipo básico está virado para a direita. A cabeça é um perfil no qual se vê metade da boca. Um olho de frente e uma sobrancelha são colocados de perfil. Os ombros são apresentados em toda sua largura, mas do lado da frente do corpo a linha da axila à cintura está de perfil, incluindo um mamilo. A extensão do tórax pode apresentar pormenores de vestuário, sendo os mais comuns colares e alças de vestidos, mas, com exceção de raras figuras que estão voltadas ou em poses incomuns, não representa nenhuma parte específica do corpo. A linha que vai desde a axila posterior à cintura parece igualmente não ser mais um elemento de ligação. A cintura está de perfil, assim como as pernas e os pés. O umbigo é colocado perto da linha anterior da cintura, que é muitas vezes saliente nesse ponto.
Na linguagem egípcia, cor, pele e natureza são palavras afins. Uma figura sem cor não estaria completa e a ausência intencional da cor é rara. A cor é tão esquemática como as figuras a que se aplica. A cor é uniforme em toda figura, pode ser num único tom, textura ou padrão. O repertório básico de cores é limitado: preto, branco, vermelho, amarelo, azul, verde. A partir da 18ª dinastia a variedade torna-se maior, mas continua a ser simples e clara. Os contornos são apresentados em cores contrastantes, sobretudo o preto.
As cenas cujos temas se relacionam podem estar ao lado umas das outras num mesmo registro, mas podem ser lidas em sequências, para cima ou para baixo, ao longo de uma parede, ou seguir ambos os princípios. Duas versões diferentes do mesmo conjunto de cenas – por exemplo, uma sequencia da sementeira até a colheita – podem ser organizadas de modos opostos, mostrando que a posição na parede, só por si, não transmite informação.
Outra característica importante de toda a representação egípcia é o tratamento da escala que forma, com a iconografia, o principal meio de expressão ideológica. Dentro de uma figura, as partes são representadas nas suas proporções naturais, e isto é também acontece nas cenas completas, mas há composições que estão inteiramente organizadas por escala à volta das suas figuras principais. Quanto maior for a figura, mais importante é.
Nos túmulos privados, uma única figura do dono tem muitas vezes a altura de toda a área em relevo numa parede, chegando a atingir seis registros, cujas cenas ele observa, estando virado para elas. Pode também ter um tamanho várias vezes maior do que o das figuras da mulher e dos filhos, que têm, braços à volta dos seus tornozelos. De igual modo, o rei domina os seus súditos.
Nos relevos de batalhas do Império Novo, uma enorme figura do faraó e de seu carro pode ocupar quase metade da área, sendo o restante preenchido com soldados egípcios, inimigos vencidos e uma fortaleza inimiga, numa colina, contendo inúmeras pessoas, em direção às quais o faraó estende a mão para as agarrar.
Em grande parte das obras que se conservam há uma persistente idealização, sendo as coisas representadas como deviam ser e não como são. A idealização é, no entanto, tão seletiva como o tratamento da escala. As figuras importantes tomam forma idealizada, representada sobretudo através de uma maturidade jovem, enquanto as mulheres são todas jovens e magras. Normalmente estão em repouso. As figuras subordinadas podem, por seu lado, ser representadas como enrugadas, carecas e deformadas e podem estar a discutir ou a lutar. Pormenores como estes são mais comuns nos mais belos túmulos do Império Antigo, onde podem ter sido acrescentados, em parte para dar interesse e individualidade às cenas.
A imagem em destaque é da magnífica tumba de Tutankamon, que, segundo os estudiosos, herdou o trono por volta do ano 1332 a.C., quando tinha 9 anos de idade, e faleceu prematuramente com apenas 19 anos. A tumba foi descoberta pelo arqueólogo britânico Howard Carter em 1922 e, a partir daí, tornou-se um os mais ilustres faraós do Antigo Egito.