Porque não pintar a alegria?

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Porque não pintar a alegria?
   

“Por que a arte não pode ser bonita?”, perguntou Renoir certa vez. “O mundo já tem muitas coisas desagradáveis.” Eis um resumo da sua atitude em relação à pintura e à vida, já que ele mesmo tinha uma incrível capacidade para a alegria, e sua arte expressava esse prazer de viver.

Renoir só trabalhava quando estava feliz e escolhia temas que considerava atraentes: paisagens exuberantes, pessoas se divertindo, frutas, flores, crianças brincando, festas, bailes e mulheres bonitas.

Embora pareça natural hoje, a escolha de seus temas foi radical para a época. O mundo das artes em Paris ainda era dominado pelo Salão Oficial, que preferia exibir obras sobre temas históricos e literários, pintadas academicamente. Renoir estava muito mais interessado na vida das esquinas do que nos exercícios habituais de copiar as antigas esculturas.

Durante o final da década de 1860, Monet e Renoir trabalhavam muito próximos, já que ambos se sentiam atraídos pelas cenas de rio e pela vista esfuziante de Paris. Por isso mesmo, muitos quadros seus dessa época retratam cenas idênticas.

Como pintavam ao ar livre, não podiam controlar a luz e, certamente por isso, imprimiam um ritmo mais veloz a seus trabalhos, um ritmo diferente do habitual entre as quatro paredes de um estúdio, com o modelo à disposição.

Embora gostasse de paisagem, Renoir não escondia sua preferência em pintar gente. E o que buscava num modelo era sobretudo um ar de serenidade e uma pele que captasse a luz.

Em 1883, quando voltou de uma viagem à Itália, modificou seu estilo de pintura. O contato com as obras de Rafael contribuiu para que ele modificasse sua posição em relação à forma. E suas figuras ganharam contornos precisos, seus corpos não mais se fundiam ao sol com a folhagem.

Mas, em 1890, esses traços nítidos e duros haviam se derretido novamente. Renoir voltou, então, a um estilo mais de acordo com seus instintos, com seu temperamento. Nesse período pintou seus filhos, sua esposa e uma grande variedade de nus, todos em cores radiantes.

No final da vida, quando suas mãos se atrofiaram pelo reumatismo, Renoir não só continuou a pintar, como decidiu fazer pequenas esculturas em bronze, auxiliado por seus ajudantes. Essas figuras arredondadas e sólidas vinham confirmar mais uma vez, seu encanto e fascínio pelas formas humanas. “Eu nunca acho que terminei um nu até sentir que posso beliscá-lo”, disse ele.

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