Paul Cézanne

Paul Cézanne
   

Paul Cézanne nasceu a 19 de janeiro de 1839, em Aix-en-Provence, pequena cidade da região mediterrânea francesa. Seu pai, Louis-Auguste Cézanne, era um próspero chapeleiro que, em 1848 fundou com um sócio o Banco Cézanne & Cabassol, o único existente em Aix, cujo crescimento trouxe fortuna à família. A mãe, Anne-Elisabeth-Honorine Aubert, havia sido operária da fábrica de chapéus de Louis-Auguste, com quem se casou em 1844, quando Paul já tinha 5 anos.

A fortuna de Louis-Auguste tinha como símbolo uma enorme propriedade fora dos limites de Aix, chamada Jas de Bouffan, e que seria o lar da família a partir de 1859. Esse berço dourado garantiu a Cézanne, ao longo da vida, a sobrevivência material, mas sua luta se desenvolveria em outro plano.

Amigos de Juventude

Aos 13 anos, Cézanne ingressou no Colégio Bourbon, em Aix, revelando-se um aluno aplicado e com bom desempenho nas várias disciplinas. A exceção, que não deixa de ser irônico, era o desenho. Pois seus traços pouco convencionais não eram bem recebidos pela ortodoxia de seus mestres. Apesar de pouco sociável, fez bons amigos no colégio, entre outros, Émile Zola, o futuro grande romancista. Era o início de uma sólida amizade, que os uniria por mais de trinta anos. Juntos estudavam e se divertiam nas horas livres. Costumavam nadar e pescar, declamar poesias e sonhar com o futuro. Cézanne sempre se lembraria com nostalgia dessas cenas da infância.

De início, Cézanne e seus amigos pensavam que ele se tornaria um poeta. Mas, com  passar do tempo, seu interesse se dirigiu para a pintura, e ele começou a frequentar com entusiasmo um curso livre de desenho na Academia de Arte de Aix. Concluindo aos 20 anos os estudos no Colégio Bourbon, Cézanne só tinha um objetivo: deixar Aix e unir-se a Zola, que morava essa época em Paris, para dedicar-se inteiramente à arte. Mas Cézanne não podia romper com a família. Tinha muito medo de seu pai dominador, que não se interessava absolutamente por arte e valorizava apenas o dinheiro.

Cedendo à imposição paterna, Cézanne matriculou-se nesse mesmo ano na faculdade de Direito. Mas em abril de 1861, enfim, vencendo a oposição do pai e suas próprias incertezas, pois já revelava certa tendência à apatia e à depressão, chegou a Paris. Recebia do pai uma mesada, o bastante para sobreviver razoavelmente instalado.

Seis meses mais tarde, Cézanne retornava a Aix. Apesar do apoio de Zola, não conseguiria integrar-se no meio artístico e social de Paris nem superar a forte depressão que o fez destruir todas as suas telas. Voltou cheio de dúvidas. Mas um ano de trabalho e tédio no banco do pai o convenceu a tentar Paris novamente. Em novembro de 1862, aos 23 anos, transferiu-se para a capital, com o firme propósito de prosseguir na carreira artística.

Em Paris, Cézanne se submeteu aos exames de amissão na Escola de Belas-Artes. Sem êxito, nunca mais faria nova tentativa. Mas continuava pintando e regularmente enviava telas ao Salão oficial. Mas, ano após ano, o júri se recusava a exibir seus trabalhos. Paradoxal, Cézanne, ao mesmo tempo que buscava o reconhecimento de sua arte, provocava a rejeição que tanto temia: proclamava abertamente as incoerências do sistema oficial, dava títulos provocativos às suas telas e escrevia cartas agressivas à superintendência do Salão.

Havia elementos contraditórios na personalidade de Cézanne que o incompatibilizavam com os colegas. Era tímido, não gostava de interferências, o que traduzia num medo quase patológico de ser atingido. Tinha profundas dúvidas quanto ao valor de seu trabalho, ao mesmo tempo que suspeitava que outros copiassem suas ideias. Na companhia de amigos, adotava posturas deliberadamente estranhas, posando de camponês grosseiro e acentuando seu sotaque provençal.

Contato com os Impressionistas

Na década de 1860, o Café Guerbois era ponto de encontro de artistas, entre eles, Manet e Degas. Cézanne foi levado até lá pela primeira vez por Camile Pisarro. No café, comportava-se ainda de forma mais estranha, ouvindo em silêncio as discussões entre os amigos. Mas, se algum comentário sobre sua pessoa o irritasse, retirava-se bruscamente. “São um bando de bastardos: vestem-se tão bem quando mendigos”, blasfemou certa vez contra um grupo do Guerbois.

Embora com apenas 20 anos. Cézanne já era tido como um excêntrico incurável. O bem-humorado Renoir declarou anos mais tarde: “Desde o início, mesmo antes de conhecer suas pinturas, senti que era um gênio”. Mas também o estranho temperamento de Cézanne não lhe passou desapercebido: “Seus movimentos pareciam estar limitados, como se ele estivesse incrustado numa concha invisível”. Todas as descrições sobre sua pessoa sugerem que Cézanne vivia submetido a enormes pressões internas, lutando para controlá-las. Executada com um vigor extraordinário, suas telas da década de 1860 espelham esses distúrbios interiores: cadáveres, assassinatos, estupros e orgias.

Aos 30 anos, os hábitos de Cézanne e o estilo de sua pintura mudaram radicalmente. Em 1869 conheceu uma jovem modelo e estilista, de nome Hortense Fiquet, e tornaram-se amantes. O relacionamento foi duradouro, embora fossem personalidades totalmente opostas: se Cézanne era austero e circunspecto, ela, por sua vez, mostrava-se sempre alegre e comunicativa. Este foi seu primeiro, e único, envolvimento sério, porque jamais se sentiu à vontade na companhia de mulheres, pois temia que elas o aprisionassem.

No plano artístico, iniciava-se um período de renovação. Cézanne, abandonava gradualmente os temas eróticos do início da carreira e mostrava um crescente interesse pelo paisagismo, pintando ao ar livre como os impressionistas. Muitas de suas primeiras paisagens foram feitas em L’Estanque, vilarejo pesqueiro nas proximidades de Marselha, onde o artista passou a maior parte do ano de 1870. A permanência ali não era totalmente voluntária, uma vez que a pequena cidade servia de refúgio para Cézanne escapar da convocação para a guerra franco-prussiana que estourara em julho desse ano. Foi um período que surgiram obras significativas, que traduziam, acima de tudo, a busca de um estilo próprio.

O filho ilegítimo

Em 1872, Hortense deu à luz um menino, o único filho do casal, também de nome Paul. Cézanne sempre o amou muitíssimo. Mas temia tanto o seu próprio pai que não ousou dizer-lhe que já tinha constituído família. Dessa forma, via-se obrigado a sustentar Hortense e o bebê com a pequena mesada que recebia como solteiro. Surpreendentemente, essa situação permaneceu inalterada durante anos, o casamento só se realizaria em 1886, e, quando Cézanne ia para a casa dos pais em Aix alojava Hortense em outro lugar.

No ano em que Paul nasceu, Cézanne levou a família para Pontoise, cidadezinha nos arredores de Paris, onde vivia Camile Pisarro. Durante os dois anos seguintes, ambos trabalhariam lado a lado por longos períodos. Cézanne ficou de início em Pontoise; depois, na vizinha Auvers. Esse período foi singular na vida de Cézanne, pois Pisarro, com sua figura de pai benevolente, era o único mestre que Paul aceitava. Introduziu-o nas novas técnicas do Impressionismo e assegurou-se de que s trabalhos de seu protegido fossem exibidos na primeira mostra impressionista, em 1874.

As experiências de Cézanne com Pisarro foram decisivas para seu desenvolvimento artístico. Apesar de, posteriormente, ter transcendido de muito o Impressionismo, Cézanne conservaria a prática de inspirar-e diretamente na natureza. Sua personalidade continuava difícil mas, enquanto artista, encontrava novo ânimo e disciplina em contato com a natureza.

Um ano decisivo

Nos dez anos seguintes, Cézanne viveu uma existência solitária e instável, dividindo-se entre Paris, Aix e arredores. Silenciosa e cuidadosamente, desenvolveu sua própria técnica de pintar construções a partir da natureza. Público e crítica, porém ainda recebiam suas obras com hostilidade. Após anos de tentativas, apenas um trabalho foi aceito pelo Salão.

O ano de 1866 foi pleno de episódios marcantes. Um fato extremamente desagradável foi o rompimento da antigo amizade com Zola. O escritor, já famoso, não havia esquecido o companheiro de infância, oferecendo-lhe hospedagem em seu castelo de Médan, perto de Paris. Mas em seu romance A Obra, o personagem central era um pintor fracassado, que revelava muito das características do difícil temperamento de Cézanne. Embora este tenha escrito a Zola agradecendo o envio de uma cópia do livro, estava profundamente magoado e nunca mais estaria com o escritor.

Algumas semanas mais tarde, Cézanne, que havia enfim, admitido publicamente a existência de sua família, casou-se com Hortense. Não se sabe ao certo por que ele o fez, uma vez que a relação, já havia tempos, perdera seu ardor. Em outubro desse mesmo ano, Louis-Auguste Cézanne morreu, deixando o filho rico e independente. “Meu pai foi um gênio”, disse Cézanne, em tom sarcástico. “Deixou-me com uma renda de 25.ooo francos.” Apesar da ironia e da fortuna herdada, a ausência da figura paterna fez acentuar suas crises depressivas.

Seu retiro solitário

Os acontecimentos de 1866 reforçaram em Cézanne o desejo de afastar-se do convívio social. “O isolamento é tudo o que eu mereço”, disse certa vez a um amigo. Hortense e o filho Paul viviam em Paris a maior parte do tempo, enquanto o pintor permanceria em Jas de Bouffan com sua família. Ia cada vez menos a Paris e cessou de enviar telas para o Salão. Sua produção, no entanto, continuava intensa. Só tinha contatos raros com os velhos companheiros de Aix. Em pouco tempo, Cézanne foi sendo esquecido. Já estava com quase 60 anos quando sua obra começou a atrair a atenção merecida. Em 1895, o famoso marchand Ambroise Vollard organizou-lhe uma grande exposição individual em Paris. Pela primeira vez depois de vinte anos, as pinturas de Cézanne eram vistas na capital e, embora sua arte não fosse compreendida, o público parecia reconhecer seu valor.

De tempos em tempos, jovens admiradores faziam peregrinações ao refúgio do já lendário mestre de Aix, e Cézanne parecia apreciar essas homenagens. Era uma velhice tranquila, abalada apenas pela morte da mãe em 1898. No ano seguinte, o pintor vendeu o Jas de Bouffan. Alugou em Aix um apartamento com um estúdio anexo, antes de comprar, em 1901, um terreno nos arredores, nas colinas de Chenin des Lauves. Possuía um outro estúdio nessa mesma localidade e para lá se dirigia, a pé, todos os dias.

Cézanne continuava a pintar ao ar livre. Em 15 de outubro de 1906, exposto a uma tempestade, contrai uma forte gripe que o deixa extremamente prostrado. E as tentativas de retornar ao trabalho agravam ainda mais seu precário estado de saúde. Uma semana depois, a gripe evoliu para pneumonia, e o pintor falece no dia 22 de outubro de 1906, aos 67 anos de idade. A mulher e o filho estavam em Paris.

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