Com a distância de dez anos dos entusiasmados que rodearam a sua aparição na primeira mostra impressionista no estúdio parisiense do fotógrafo Nadar, Renoir parece dar aqui uma volta à sua pintura tão feliz e livre.
Tinha há pouco completado uma viagem de estudo à Itália, onde havia admirado o desenho perfeito de Rafael, mas sentia o fascínio pelas formas quadradas e simples de Cézanne. Por essa razão elaborou demoradamente várias partes da tela, abrandando, com tons cinzentos, a felicidade cromática ainda visível na jovem e na criança com cabelos ruivos, à direita.
É claro que no quadro, de grandes dimensões e de insólita e cuidada execução, Renoir aspira à recuperação da alta dignidade formal, arriscando-se até a roçar o academicismo em que se formara e que tão felizmente abandonara para aderir à visão impressionista.
Da desprendida felicidade pictórica permanecem aqui, como em todos os quadros posteriores, os doces sorrisos femininos e infantis, a ternura rosada das carnações, os penteados vaporosos e, naturalmente, uma palpitação de vida cotidiana e contemporânea.
A menina, com um elegante vestido de passeio com bordados e rendas, segura nas mãos um aro de madeira e olha com ar faceiro para o espectador. O modelo para a pose fotográfica foi adotado por vários pintores impressionistas e é evidente neste detalhe de Renoir.
A principal figura feminina à esquerda, uma assistente de modista, é a amante de Renoir, e frequentemente seu modelo em pinturas, Suzanne Valadon, que segura sua saia para não sujá-la na rua lamacenta, transporta um cesto de chapéus vazio, e está sem capa ou guarda-chuva.
Esta obra pertence a National Gallery, em Londres.
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