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Van Gogh em palavras

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São famosas as cartas que Vincent Van Gogh enviava ao seu irmão Theo, principalmente aquelas que ele enviava quando estava vivendo em Arles no sul da França.

Outros destinatários também foram agraciados com as palavras do artista, nas quais discorria sobre a sua forma de pintar, de expressar-se com as cores, como encarava fatos da sua vida.

Encantadoras, elas trazem em palavras o que Van Gogh transmite através dos traços e cores, trazendo a intenção do artista na composição das suas obras.

Cor Expressiva.

Fragmento da Carta a Theo, Arles, s/data agosto de 1888

“Que erro cometem os parisienses, não tendo gosto para as coisas rudes, para os Monticellis, para a cerâmica comum! Mas não devemos desanimar porque a utopia não se transforma em realidade.

Mas é que as coisas aprendidas em Paris me estão deixando, e estou voltando às ideias que tinha no campo, antes de conhecer os impressionistas.

E não me surpreenderá se dentro em pouco os impressionistas criticassem a minha maneira de trabalhar, pois foi fertilizada antes pelas ideias de Delacroix do que pelas ruas. Porque em lugar de tentar reproduzir exatamente o que tenho ante os olhos, uso a cor mais arbitrariamente, para me expressar com força. Bem deixemos tranquila a teoria, vou dar-lhe um exemplo do que quero dizer.

Gostaria de pintar o retrato de um amigo artista, um homem que sonha grandes sonhos, que trabalha como o rouxinol canta, porque é essa a sua natureza. Ele será louro. Quero colocar no quadro a minha apreciação, o amor que tenho por ele. Por isso, eu pintaria como ele é, tão fielmente quanto possível, para começar.

Mas o quadro não termina assim. Para terminá-lo, vou passar a ser um colorista arbitrário. Exagero a cor do cabelo, chego a colocar tons laranja, amarelo-cromo, e amarelo-limão pálido.

Atrás da cabeça, em lugar de pintar a parede comum da sala medíocre, pinto o infinito, um fundo simples do mais rico e intenso azul que posso conseguir, e com essa combinação simples, a cabeça brilhante contra o rico fundo azul, obtenho um efeito misterioso como uma estrala no azul profundo do céu.

Também no retrato do camponês trabalhei dessa maneira, mas neste caso sem desejar produzir o brilho misterioso de uma estrela pálida no infinito.

Em lugar disso, imagino o homem que tenho de pintar, terrível na fornalha do auge da colheita, cercado por todo o meio-dia. Daí as cores alaranjadas flamejando como o ferro em brasa, e daí os tons luminosos de ouro velho nas sombras.”

As palavras feitas em imagens, obras que Van Gogh fez no mesmo ano em que escreveu a carta acima.

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