É talvez um dos nomes mais conhecidos da arte contemporânea que lidou com materiais perecíveis, degradáveis ou orgânicos. Apesar de se situarem entre os territórios da escultura, da instalação e da performance, referia-se sempre aos seus trabalhos como “pinturas” e considerava-se um pintor.
“Tudo o que faço é pintura, mesmo se não toco num pincel”, afirmava, sublinhando que provinha dessa tradição e dessa forma de pensar, tal como toda a arte contemporânea tal como ela foi redefinida em 1917 pela Fonte de Marcel Duchamp: “Rembrandt é pintor, mas também Duchamp o é.”
Sobre o diálogo que estabelecia com o espectador e, em alguns casos, com o divino dizia. “Todos os artistas acreditam em Deus, por um simples motivo: Deus é a razão da síntese.”
Nascido na Grécia a 23 de Março de 1936, muda-se para Itália em 1956, tinha então 20 anos, para estudar na Academia de Belas Artes de Roma, onde viria a permanecer até ao fim da sua vida.
Foi em Itália, ao lado de nomes como Michelangelo Pistoletto, Alberto Burri ou Giuseppe Penone, que construiu a sua obra plástica no seio de um dos movimentos mais marcantes da arte do pós-guerra.
Ficou conhecido pela utilização de materiais não convencionais (troncos, fogo, sacos, cavalos, pássaros), afirmando-se no meio da vaga de contestação que varreu a arte europeia depois da Segunda Guerra Mundial, naquilo que o crítico italiano Germano Celant viria a sintetizar como Arte Povera, ou Arte Pobre.
Foi nesse contexto que contribuiu para interrogar e amplificar os limites da arte contemporânea, situando muitas das suas obras nos interstícios entre arte e vida, natureza e cultura, e ajudando a mudar o entendimento do que pode ser (ou não) classificado como arte.
Foi aí que expôs pela primeira vez em 1960, numa galeria romana (La Tartaruga), já aí sendo perceptível a sua singular forma de interpretar a arte, recorrendo a poucos e simples elementos, questionando a ideia de arte como indústria de criação de objetos estéticos, pensando instalações ou esculturas a partir da dissolução da forma, da destruição e da aspereza.
Mas foi depois, quando se especializou na combinação de materiais orgânicos e inorgânicos nas suas obras, que veio a alcançar projeção.
No final dos anos 1960 surpreendia quando nas suas instalações combinava vigas de ferro e animais vivos, ou troncos de madeira com carne de matadouro.
São desse período alguns dos trabalhos mais afamados como Untitled (12 horses), com 12 cavalos dispostos na galeria Attic de Roma (um trabalho que viria a ser recriado em Nova Iorque anos depois), transformando o local num espaço onde a vida real, a arte e a ficção convergiam, ou uma porta murada com pedras criada em 1969, simbolizando o isolamento com o mundo exterior.
Nos anos 1970 começou a circular internacionalmente, com diversas exposições importantes, em Colónia ou Londres, por exemplo, e representou Itália na Bienal de Veneza em 1972.
Nas décadas de 1980 e 1990 perdeu alguma visibilidade, mas a partir dos anos 2000 voltou a ser alvo de grande atenção na cena artística global.
Em 2013, quando o Vaticano teve pela primeira vez um pavilhão nacional na Bienal de Veneza, entre os artistas para o representar estava Jannis Kounellis.
Muitas das suas obras estão integradas em algumas das colecções institucionais mais importantes do mundo, como as do Guggenheim, do MoMA ou da Tate Modern.
Em Portugal, está representado nas coleções do Museu de Serralves, no Porto, e do Museu Colecção Berardo, em Lisboa.
O artista grego-italiano Jannis Kounellis, um dos mais destacados nomes da Arte Povera e um dos seus mais fiéis defensores, morreu em Roma no dia 16 de fevereiro de 2017, onde vivia desde os anos 1950. Tinha 80 anos.