Rogier van der Weyden

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Rogier van der Weyden
   

O nome de Rogier van der Weyden esteve, ao longo da história, seriamente ameaçado: como nunca assinou nem datou seus trabalhos, eles foram confundidos com os de contemporâneos seus, como Van Eyck e outros homônimos, também pintores, na Bélgica flamenga do século 15; e críticos chegaram a levantar a hipótese de que ele nem teria existido. Assim, não fosse a descoberta de documentos a seu respeito, em meados do século 19, seria impossível reconstituir sua trajetória.

Homem de grande religiosidade e de vida familiar impecável, sua obra desde cedo também se caracterizou pela sobriedade e por um realismo austero, conjugado a uma precisão de traço quase naturalista.

Pelo que se sabe, Van der Weyden teve uma vida pacata e sem sobressaltos, recebeu muitas honrarias e encomendas prodigamente remuneradas. Como pintor cidadão estava longe de ser revolucionário: seu trabalho e sua conduta jamais ultrapassaram os cânones estéticos e morais vigentes em sua época e em sua terra. Mas, no que fez, foi brilhante.

Nasceu por volta de 1399, na cidade de Tournai, na Bélgica, filho de um cuteleiro ou de um escultor – não se sabe ao certo.

Dos dados oficiais sobre sua vida, conclui-se que, por volta de 1427, era aprendiz do pintor Robert Campin, ainda em Tournai. Essa iniciação artística deve ter durado cerca de cinco ou seis anos, época em que ele se dedicou a copiar esculturas e portais de igrejas, como era de costume. Esse exercícios deixaram marcas duradouras em suas pinturas, tanto pela inclusão de motivos arquitetônicos como na plasticidade de suas figuras.

Nessa mesma época, supõe-se que Van der Weyden tenha estado em Bruxelas, onde se casou com Ysabel Goffaerts, com quem teria dois filhos: Cornélio e Pedro.

A idade de 26 ou 27 anos era considerada já um pouco tadia para a iniciação artística, e é provável que ele já trabalhasse com Campin e que, então, tenha se matriculado como aprendiz apenas para preencher as condições exigidas de um professor independente: a Associação dos Pintores de Tournai só qualificava um artista como mestre depois de um aprendizado formal de quatro anos. Parece, no entanto, que Rogier prolongou seu curso por cinco anos, já que seu registro como mestre data de 1432.

Na Tournai de língua francesa, Rogier era conhecido como “de la Pasture”, nome traduzido para Van der Weyden quando ele se transferiu para Bruxelas, capital do Ducado de Brabante, em 1435, Foi tão bem-sucedido que já no ano seguinte era nomeado pintor oficial da cidade – seria, aliás, o último artista a receber tal distinção, extinta depois da sua morte.

Clientes importantes

O novo título o conduziu a encomendas oficiais, como quatro grandes painéis sobre a Justiça, pintados na sala do tribunal da Prefeitura. Ilustravam a Justiça de Trajano e Herkinbald, o Duque de Brabante, e destinavam-se  servir de lembrança aos juízes sobre seus ancestrais ilustres. Era um projeto enorme e deve ter consumido muitos anos de trabalho: o primeiro painel data de 1439 e presume-se que os outros tenham sido terminados no decorrer da década de 1440. (Seriam destruídos pelos soldados de Luís XIV, em 1695.) No entanto, parte de seu esplendor pode ser medida numa tapeçaria atualmente exposta em Berna, que inclui o retrato do próprio Van der Weyden.

O cargo de pintor oficial não o impedia de aceitar outros trabalhos. Assim, trabalhou também para o Duque de Borgonha, Filipe, o Bom (1396-1467), e produziu retratos famosos que só chegariam ate nós em cópias – de Filipe e de seu sucessor, Carlos, o Temerário. Membros da corte de Borgonha, entre eles, o filho ilegítimo de Filipe, Antonio, também lhe solicitaram retratos, com objetivo de terem a própria imagem eternizada.

Outras encomendas para obras públicas chegavam às mãos de Van der Weyden, especialmente os grandes retábulos: O Juízo Final, por exemplo, foi pintado a pedido do chanceler de Borgonha, Nicolas Rolin, para seu hospital (Hôtel-Dieu) em Beaune.

Nessa época não havia divisão entre patrões seculares e eclesiásticos, pois tanto os bispos como os dirigentes religiosos vinham das mesmas famílias nobres; outras vezes, também estavam a serviço do Duque de Borgonha, como Jean Crevrot, bispo de Tournai entre 1436 e 1460, que encomendou a Van der Weyden o Retábulo dos Sete Sacramentos, e foi incluído entre as figuras da composição.

Mas o acesso a Van der Weyden não era privilégio dos dignatários da Igreja e do Estado, estendendo-se a qualquer um que pudesse pagar por seus trabalhos. O Tríptico de Santa Columba, por exemplo, hoje em Munique, foi solicitado por um dos mais prósperos comerciantes de Colônia. Havia também as encomendas de sociedades, tal como a da Associação dos Arqueiros de Louvain, para a qual Van der Weyden pintou A Deposição.

Ele não precisava viajar em busca de trabalho, pois, desde que se instalou em Bruxelas, saiu dali apenas uma vez – segundo os registros: em 1450 esteve em Roma,onde proclamou Gentile da Fabriano o maior pintor da Itália na época. Sentia-se seguro para emitir tal juízo após examinar os afrescos de Gentile na Basílica Lateranense, em Roma (também destruída). Pouco antes de 1450, acredita-se que estivera em Ferrara, onde o Marquês Leonello d’Este encomendou algumas obras.

Ainda antes de chegar a Roma, os historiadores presumem que Van der Weyden teria estado também em Milão e Florença. Essa hipótese surgiu devido à transformação que processou em sua pintura: muito da dramaticidade e da plasticidade incorporadas às obras do período seguinte a 1450 teriam origem na vista do pintor à Igreja del Carmine, em Florença, onde os afrescos de Masaccio muito o impressionaram.

Prestígio e austeridade

Como Van der Weyden não costumava viajar, os outros artistas tinham que vir até ele. Em 1460, por exemplo, a Duquesa de Milão enviou seu pintor da corte, Zanetto Bugatto, para estudar em Bruxelas. Bugatto estava ansioso por aprender a técnica da pintura a óleo que permitia maior realismo nos retratos e ainda era praticamente desconhecida na Itália.

Mas a temporada de Bugatto em Bruxelas não passou sem estremecimentos. Segundo um relatório de embaixadores de Veneza nos Países Baixos, Bugatto e Van der Weyden teriam se desentendido e o pintor flamengo só aceitou seu discípulo de volta depois de uma intervenção de nada menos que o exilado delfim da França, o futuro Luís XI. O motivo da briga parece ter sido o gosto exagerado de Bugatto por vinho.

Esta passagem, além de ilustrar a austeridade de Van der Weyden, ilustra também a dimensão de suas relações sociais. Prestigiado e rico, ele pertencia à respeitada confraria de Santa Cruz da Igreja de Saint Jacques-sur-Coudenberg e ganhava o suficiente para investir não apenas em fundos em Tournai como também para oferecer generosas doações às instituições religiosas especialmente para os Conventos de Scheut e Herinnes, onde seu filho Cornélio era monge.

Sabe-se que a data de sua morte em Bruxelas foi em 18 de junho de 1464. Foi enterrado em Sainte Gudule, a Catedral de Bruxelas.

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