A Capela Sistina foi construída entre 1473 e 1483 pelo arquiteto Giovanni de Dolci para ser o oratório privado do para Sisto IV, de quem tomou o nome que a celebrizou. Em maio de 1506 o papa Júlio II, desejando embelezar o Vaticano e entrar para a história como patrono das artes, mandou Michelangelo decorar a abóboda do teto da capela, então ornada com um painel de estrelas douradas sobre um fundo azul.
O artista relutou em aceitar a incumbência mas acabou cedendo, sem imaginar o sacrifício sobre-humano a que se submeteria nos 20 anos seguintes, até completar o Juízo Final, na parede do altar da capela. A ideia original do papa era pintar os doze apóstolos na cúpula da abóboda, mas Michelangelo rejeitou o pedido, argumentando que, diante do espaço imenso de 500 metros quadrados, tal composição teria um resultado pobre e medíocre.
O gênio resolveu que preencheria todo o espaço disponível: queria fazer um afresco de mais de 1.000 metros quadrados, que seriam recobertos por 300 figuras dentro de uma concepção global filosófica, arquitetônica e religiosa. Começou seu trabalho em 10 de maio de 1508, dois dias após ter aceitado o contrato. Mandou montar andaimes imensos a 20 metros do chão e trabalhava em média 16 horas por dia nas condições mais insalubres, respirando tinta e submetendo o corpo a torções infernais, em pé, para pintar com o rosto comprimido contra o teto. Irritado com seus 13 assistentes, demitiu-os após algumas semanas de brigas em função de seu gênio irascível e perfeccionista.
A partir de então, trabalhou sozinho e exigiu que ninguém entrasse na capela durante o trabalho. O papa fez questão de contrariá-lo, sempre importunando o artista com perguntas sobre o fim das obras. Seu método de pintura era o afresco, que, como o próprio nome diz, é feito quando o reboco de cal ainda está úmido na parede. Quando a cal seca, há um areação com os pigmentos de tinta e a cor é fixada.
Todo esse esforço lhe causou problemas físicos permanentes: ficou com a barriga protuberante, o peito encolhido e a coluna curvada, e era obrigado a segurar os textos que lia acima da cabeça, já que nos quatro anos da criação do teto da capela habituara-se a manter os olhos fixos no alto. Michelangelo recebeu 6.000 ducados, logo gastos em dívidas e com os parentes. A Capela Sistina foi aberta ao público em 1512, no Dia de Todos os Santos, com muitos andaimes ainda montados. Assim mesmo, Júlio II fez questão de celebrar a missa ali.
As primeiras restaurações, no século 18, não removeram os danos, e além disso recobriram as figuras de uma camada de substância gordurosa e gomas que acabou por acelerar a decomposição das cores. A fuligem dos archotes e velas que iluminavam a capela deu o toque final opaco dos afrescos. Ainda mais daninha foi a devastação humana, detonada com a onda moralista do Concílio de Trento, em 1564, determinando que os nus de Igreja fossem destruídos ou cobertos com véus: MIchelangelo mal acabara de morrer e o pintor Daniele de Volterra vestiu as figuras com calças e folhas de parreira.
Ao longo dos séculos muitos outros intervieram na obra e desfiguraram, raspando até a região do sexo das figuras. Em 1993, após cinco anos de restauração, a Capela Sistina foi reaberta e o resultado surpreendeu o público e os historiadores de arte: após centenas de anos escondidas, as cores magistrais da pintura do mestre renascentista estavam de volta à vida.