Arshile Gorky, considerado o pai do Expressionismo Abstrato americano criou três pinturas intituladas Garden in Sochi. Como os outros, este, o mais antigo exemplo, apresenta uma composição abstrata inspirado por memórias da infância do artista de sua Armênia natal.
Nesse fragmento de texto de um manuscrito existente nos arquivos da biblioteca do Museu de Arte Moderna de Nova York. Incluído em Schwabacher, Arshile Gorky, pág 66.
Escrito pelo artista em junho de 1942, a pedido de Dorothy Miller, sobre o quadro “Garden in Sochi”, que o Museu de Arte Moderna acabara de adquirir, traz o que inspirou o artista na sua composição:
“ Gosto do calor, das coisas macias, comíveis e saborosas, do canto de uma só voz, de uma banheira cheia de água para me afundar dentro.
Gosto de Uccello, Grunewald, Ingres, dos desenhos e dos esboços de Seurat e daquele homem chamado Pablo Picasso.
Meço todas as coisas por seu peso.
Amo o meu Mougouch. E o papai Cézanne, então, nem se fala!
Detesto as coisas que não se parecem comigo e para mim tudo quanto não obtive é Deus.
Se me dão licença….
Gosto dos campos de trigo, da terra arada, de damascos, da forma dos damascos dos tremores das manchas do sol.
E sobretudo de pão…..
A uns 50 metros de nossa casa, na estrada que levava à fonte, meu pai tinha um pequeno jardim com algumas macieiras aposentadas, que não queriam dar mais frutos.
Num pedaço de terreno, sempre sombreado, crescia um mundo de cenouras silvestres, onde os porcos espinhos faziam ninho, e, meio enterrado na terra negra, havia um bloco de pedra azul que as manchas de musgo, aqui e ali, faziam parecer um pedaço de mármore tombado.
Mas de onde saíam todas aquelas sombras em constante luta, tal como os lanceiros das pinturas de Uccello?
O jardim era conhecido como ‘Garden of Wish Fulfillment’ (Jardim da Realização dos Desejos) e muitas vezes eu vi a minha mãe e outras mulheres da aldeia abrir as blusas e tomar nas mãos os seios macios e pendurados e esfrega-los na pedra.
Dominando tudo, uma enorme árvore sem folhas e descorada do sol, a chuva e o frio.
Era a Holy Tree (Árvore Sagrada).
Eu mesmo nunca soube por que era ela sagrada, mas muitas vezes vi pessoas, qualquer um que passasse por lá, rasgar de propósito a roupa para amarrar uma tira na árvore.
Com a repetição desse ato através dos anos, todas aquelas oferendas eram como uma verdadeira parada de bandeiras que o vento agitava, difundindo no ar o chiado – muito baixinho aos meus ouvidos infantis – das folhas prateadas dos choupos.”