Turner tinha uma particular afeição por esta pintura, que considerava a sua obra-prima. Em 1829, numa primeira redação do seu testamento, tinha indicado como sua vontade expressa ser sepultado envolto nesta tela.
Apesar dos inúmeros pedidos, nunca quis vendê-la e deixou-a em herança à National Gallery na condição de ser exposta juntamente com O Sol Nascendo por entre o Vapor, ao lado de dois quadros de Claude Lorrain, Porto de Mar com o Embarque da Rainha de Sabá e Paisagem com a Boda de Isaac e Rebeca, nos quais se havia realmente inspirado.
O tema clássico, neste caso extraído da Eneida, de Virgílio, é frequente em Turner, que muitas vezes escolheu episódios históricos ou cenas literárias e narrativas como protagonistas das suas atmosféricas paisagens. Além disso, quando expunha as obras nas mostras periódicas da Royal Academy, onde esta tela foi apresentadas em 1815, incorporava nelas textos de poetas antigos ou modernos.
O pintor centra-se, antes de tudo, e mais tarde de forma exclusiva, no tema em função da luz que absorve as formas transformando-as em vibrações cromáticas.
Turner capta o deslumbramento da luz da aurora que cega e das transparências da água que se refletem nos móveis, nesta miragem estudada um pouco ao natural e muito mais acuradamente nas salas dos museus observando Ticiano, os paisagistas holandeses do século 17 e, sobretudo, o seu amado Claude Lorrain.
A construção, à direita do quadro, é o túmulo de Siqueo, o primeiro marido de Dido. Segundo a narrativa da Eneida, de Virgílio, Dido fugira de Tiro, cidade fenícia no Líbano, com as cinzas do marido, Siqueo, assassinado pelo irmão dela, e encontrara refúgio nas costas da África Setentrional, onde decidira fundar uma nova cidade, a futura Cartago.
à esquerda do quadro, rodeada pelo seu séquito, Dido se propõe à construção da cidade. à sua frente, vestido com um manto escuro e o elmo de guerreiro, está Eneias, pelo qual a rainha se apaixonará e que será a causa do seu suicídio. Os dois estão isolados dos outros, realçados pelos dois mastros grandes alinhados diagonalmente a eles.
Os biógrafos de Turner contam que o artista em 1799, viu Porto de Mar com a Rainha de Sabá, pintado por Claude Lorrain em 1648, na coleção de John Julius Angerstein, e que se emocionou até às lágrimas, convencido de que nunca seria capaz de pintar tão bem.
Agora que você sabe mais detalhes sobre esse quadro de Turner, experimente fazer uma releitura dele ou criar uma composição que contenha toda vivacidade da luz criando uma atmosfera vibrante.
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