Em 1996, depois de permanecer desativada por 47 anos, a estação de trem e hotel projetados por Victor Laloux na virada do século reabriu como o Museu de Orsay. Encomendado pela ferrovia Orléans para ser seu terminal no centro de Paris, o prédio escapou de ser demolido na década de 70 graças às repercussões dos protestos pela destruição dos pavilhões de Baltard, no mercado de Les Halles. Durante as obras, manteve-se mito da arquitetura original. O novo museu foi organizado de forma a expor toda a arte do período entre 1848 e 1914, no contexto da sociedade e de todas as formas de atividade criativa que predominavam naquela época.
UM POUCO SOBRE O EDIFÍCIO
A transformação da estação de trem em museu foi confiada a três jovens arquitetos do gabinete A.C.T. Architecture: Pierre Colboc, Renaud Bardon e Jean-Paul Philippon, vencedores do concurso de arquitetura. Uma segunda consulta, lançada em 1980, designa a célebre decoradora italiana Gae Aulenti para a conversão do interior. Foi ela que concebeu as duas voltas que fecham a ala central, uma arquitetura sólida, capaz de se impor no imenso volume da nave. O projeto é precursor, pois é a primeira vez que uma arquitetura industrial é reabilitada para acolher um museu importante. A decoração volta a ganhar o seu brilho do passado, adaptando-se às novas exigências, como as rosáceas da abóbada reconstruídas tal como eram, mas munidas de dispositivos para evitar o reflexo sonoro e de aberturas que sopram ar condicionado. Os trabalhos duraram vários anos até que o Museu de Orsay foi inaugurado em 1 de Dezembro de 1986 pelo Presidente da República, François Mitterrand.
ACERVO
Uma das originalidades do museu é reunir o conjunto das expressões artísticas de um período muito curto, 1848-1914, mas extremamente fértil. Pintura, escultura, arquitetura, artes decorativas e fotografia são expostas lado a lado nas salas. Esta interação permite também redescobrir artistas desconsiderados durante muito tempo, como os pintores acadêmicos.
Muitas peças expostas no Museu de Orsay vieram do Museu do Louvre e da soberba coleção de arte impressionista que estava à mostra no superlotado Jeu de Paume. Além da exposição principal, o museu contém painéis que explicam o contexto social, político e tecnológico em que as obras de arte foram criadas. O acervo do museu apresenta obras de Art Nouveau, Impressionismo, Naturalismo e Simbolismo.
IMPRESSIONISMO
A Catedral de Rouen reproduzida em vários momentos do dia (1892-93) é uma das muitas obras expostas de Claude Monet, a principal figura do movimento. Também os nus e os jovens de Baile no Moulin de La Galette (1876), de Pierre-Auguste Renoir foram pintados no auge do período impressionista. Outros artistas em exposição são Camille Pisarro, Alfred Sisley e Mary Cassatt. Edgar Degas, Paul Cèzanne e Vicent Van Gogh também têm obras expostas no museu, embora suas técnicas sejam diferentes das dos impressionistas. Degas preferia o mais incisivo realismo, embora fosse capaz de utilizar os traços mais rápidos dos artistas da época. Cèzanne preocupava-se mais com a substância do que com a luz, como se pode ver em seu Maça e Laranjas (1895-1900). Van Gogh foi influenciado pelo movimento por algum tempo, mas depois seguiu seu caminho próprio, como ilustram s quadros da coleção do dr. Gachet.
Embora seja classificado como neo-impressionista, o trabalho de Georges Seurat não tem muita relação com o impressionismo. Juntamente com Maximilien Luce e Paul Signac, ele pintava aplicando pequenos pontos de cor que se fundem quando olhados à distância. Jan Avril Dançando (1892) é uma das muitas telas de Henri de Toulose-Lautrec em exibição. O trabalho de Paul Gauguin em Pont-Aven, Bretanha, é exibido ao lado das obras de artistas mais jovens que o conheceram, como Emile Bernard e o grupo Nabis. Também há vários quadros do período que ele esteve no Taiti.
Os Nabis (que incluía Pierre Bonnard) tendíam a tratar a tela como uma superfície plana da qual emergia uma sensação de profundidade para aqueles que a observassem. As visões de sonho de Odilon Redon seguem a veia simbolista. A arte naïf de Henri Rousseau está representada em Guerra (1894) e O Encantador de Serpentes (1907).
ESCULTURAS
O corredor central do museu transborda com uma seleção variada de esculturas. Elas ilustram o padrão eclético em vigor em meados do século 19, quando classicismo do Memorial dos Gracchi de Eugène Guillaume, convivia com o romantismo de François Rude, criador do relevo do Arco do Triunfo (1836) conhecido como La Marsellaise. Há uma bela série e 36 bustos de membros do Parlamento (1832) – inchados, feios e sem escrúpulos e convencidos – feita por Honoré Daumier, bem como obras do genial, mas morto muito cedo, Jean-Baptiste Carpeaux, cujo primeiro bronze, Conde Ugolino (1862), retratava um personagem de Dante. E, 1868, ele produziu seu delírio dionisíaco A Dança, que causou uma onda e protestos, por representar um insulto à moral publica. Seu trabalho com as obras bem comportadas de escultores como Alexandre Falguière e Hyppolyte Moulin.
A conhecida Jovem Bailarina aos 14 anos (1881) de Edgar Degas, foi exposta quando o artista ainda era vivo, mas muitos dos bronzes à mostra no museu foram feitos a partir de imagens de cera achadas em seu estúdio após sua morte. As esculturas de Auguste Rodin, ao contrário eram bem conhecidas do público, e seu trabalho sensual e poderoso lhe dá papel destacado entre os escultores do século 19. O museu tem várias de suas obras, entre elas o molde original de Balzac (1897). Sua companheira Camile Claudel, que passou boa parte da vida em um hospício está representada por Maturidade (1899-1903), sombra alegoria da mortalidade. A virada do século é marcada pelos trabalhos de Emile-Antoine Bourdelle e Aristede Maillol.
Museu de Orsay. 62, rue de Lilie, Paris, França. Aberto todos os dias, das 9h30 às 18h, exceto às segundas. Horário noturno às quintas, até às 21h45.
Para o pintor Edouard Detaille, a estação de trem é “soberba e tem o ambiente de um palácio de belas-artes”. A ambição de Victor Laloux era também oferecer espaços “mais confortáveis e mais luxuosos” do que numa estação tradicional.
É graças à locomoção elétrica dos comboios que servem a estação e, assim, à ausência da emanação de vapor e de fumo, que o arquiteto Victor Laloux pôde conceber uma cúpula de vidro totalmente fechada para receber os viajantes e permitir-se a mais liberdade na decoração.
Depois de fechado como estação de trem, o local acolheu vários tipos de atividades, por exemplo, centro de acolhimento de prisioneiros e deportados em 1945, local escolhido pelo General de Gaulle para anunciar o seu regresso à política em 1958 e cenário de cinema para Orson Wells e Bernardo Bertolucci nos anos 60.