É típico de Vermeer o olhar íntimo sobre o relacionamento entre das pessoas, a meticulosa observação da luz e a manipulação precisa das cores. Além de visualmente sedutora, esta obra é cheia de emblemas e alusões à vida contemporânea – em especial, às conquistas e o status do pintor e da arte da pintura na Holanda seiscentista.
A modelo representa Clio, a Musa da História. Seus atributos são a coroa de louros e um livro em que ela registra os feitos heroicos. Note que, embora a primeira vista as imagens pareçam estar claramente em foco, olhando com mais atenção percebemos que o quadro parece uma foto ligeiramente desfocada, como se nosso olhar estivesse prestes a focalizar cada detalhe. Talvez seja esse efeito de clareza que ainda não existe na realidade, mas que está prestes a acontecer, o que dá aos quadros de Vermeer sua notável sensação de vida.
A fonte de luz está escondida por trás de uma pesada cortina, que está afastada para revelar o artista em seu trabalho. note como o pintor transformou a luz em delicadas pontas luminosas, semelhantes a perolas. São utilizadas com particular eficiência na cortina, no magnífico candelabro e nas tachas da cadeira em primeiro plano.
A Musa da História traz uma trombeta na mão direita, simbolizando a fama que um artista pode conseguir. O significado nesse quadro não é claro; Vermeer pode estar sugerindo que não é mais preciso buscar a fama pela excelência na pintura histórica tradicional; pode-se consegui-la por meio de novos temas como este, isto é, a pintura de interiores.
Vermeer gostava de arranjos espaciais complexos e de criar uma ilusão precisa e convincente dos objetos dentro de um espaço limitado. Em várias obras o artista utilizou uma cadeira em primeiro plano, um chão de mármore quadriculado, um tampo de mesa e a interação das figuras humanas, além de móveis cuidadosamente dispostos, como variações sobre um mesmo tema. Esta obra é a mais complexa e a mais bem sucedida dessa série de quadros.
O candelabro, retratado com espantoso virtuosismo, é decorado com a águia de duas cabeças, emblema dos Habsburgos – família real espanhola que dominou os Países Baixos. A ausência de velas nos lembra que o poder dessa casa real estava em decadência, já que em 1648 as províncias do norte da Holanda conseguiram independência do domínio espanhol pelo Tratado de Münster.
Com a recém conquistada liberdade política e cultural, os pintores holandeses criaram novos temas para seus quadros, avidamente colecionados pela classe média emergente. Todos eles – paisagens, naturezas-mortas e interiores – celebravam o surgimento e o estilo de vida da nova república holandesa, ignorando as velhas tradições da pintura religiosa e histórica, que continuava a dominar a arte das monarquias católicas. Os interiores eram representações em pequenas dimensões de cenas domésticas, com uma mensagem moral ou política. Esse tipo de pintura é chamada de pintura de gênero.
Este quadro mudou de mãos várias vezes, e acabou se tornando propriedade de uma família austríaca. Mais tarde foi confiscado pelo tirano nazista Adolf Hitler (1889-1945), que colocou em seu salão particular em Berchtesgaden. Hoje ele se encontra no Kunsthistorisches Museum de Viena, na Áustria.
Agora que você sabe mais detalhes sobre esse quadro de Vermeer, experimente desenvolver sua releitura sobre o tema, use o material colorido que você mais gostar.
Fotografe seu trabalho e compartilhe sua experiência conosco, nas nossas redes sociais, usando a #historiadasartestalento