Baco e Ariadne, Ticiano Vecellio

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Baco e Ariadne, Ticiano Vecellio
   

O quadro foi encomendado por Alfonso d’Este, duque de Ferrara, para decorar o seu pequeno estúdio, o famoso “camarim de alabastros” da sua casa de campo, juntamente com outros episódios mitológicos, entre os quais A Festa dos Deuses, de Giovanni Bellini, de 1514 (Washington, National Gallery), A Oferenda a Vênus e o Bacanal de Andros, de Ticiano (Madri, Museu do Prado).

Último da série, o quadro descreve o episódio narrado por Ovídio e Catulo: Ariadne, filha do rei Minos de Creta, abandonada por Teseu na ilha de Naxos, é surpreendida pela chegada do cortejo ébrio e dançante o deus Baco, os dois se apaixonam à primeira vista. Baco toma a coroa de Ariadne e a joga para o céu, onde se torna uma constelação (canto superior esquerdo). Mais tarde ele a desposou, e por fim ela recebeu o dom da imortalidade.

Ticiano era famoso por sua capacidade de transpor para suas obras momentos de vívida energia psicológica, como a que transmite este quadro. Foi grande mestre renascentista da cor, e o rico brilho deste quadro é reflexo de seu tema apaixonado. É um momento eletrizante.

Embora haja muitos personagens na cena, Ticiano trabalhou a composição com grande cuidado. Se cruzarmos duas linhas diagonais na tela, perceberemos que a mão direita de Baco está no centro, onde as diagonais se cruzam. Os festejadores estão todos agrupados no canto inferior direito, Baco e Ariadne ocupam a parte superior,à esquerda. Os pés de Baco ainda estão com seus companheiros, mas a cabeça e seu coração já se uniram a Ariadne.

Ariadne foi abandonada por seu amante Teseu, a quem ela ajudou a escapar do labirinto do Minotauro. Ela caminhava sozinha pelas costas da ilha de Naxos quando sua vida de repente se transformou pelo amor à primeira vista. A linha invisível de tensão no céu azul, que vai do seu rosto ao de Baco, marca este dramático momento.

Segundo a tradição, a carruagem de Baco, era puxada por leopardos, indicando o retorno triunfante da conquista da Índia. Ticiano lançou mão de uma licença artística ao usar dois guepardos que trocam um olhar significativo, numa premonição do olhar dos futuros amantes.

No canto inferior direito há a uma cabeça de um bezerro esquartejado, cuja carne crua era devorada pelos bacantes em frenesi, era um dos aspectos mais horríveis do ritual de Baco. Sua cabeça é arrastada para fora do quadro, convidando-nos a participar. A flor de alcaparra que nasce, à esquerda da cabeça, é tradicionalmente um símbolo do amor.

A figura musculosa que luta com as cobras baseia-se numa célebre estátua da Roma antiga, que representa o sacerdote troiano Laocoonte, morto num ataque de serpentes marinhas. A descoberta desta estátua, desenterrada em 1506, causou sensação, e muitos artistas da Renascença, incluindo Rafael, fizeram referências a ela em suas obras. Atualmente, esta estátua está conservada no Museu do Vaticano.

O velho gordo ao fundo, montado num burro é Sileno, chefe dos sátiros e pai adotivo de Baco. Costuma ser representado bêbado, montado num burro.

Uma bacante toca címbalos numa pose que reflete a postura da espantada Ariadne. Outras figuras nesta turbulenta procissão estão tocando instrumentos: uma toca um pandeiro, outra, ao fundo, sopra uma espécie de trompa. O cachorrinho no primeiro plano, que late para os festejadores, é um delicioso detalhe típico de Ticiano.

O olhar nostálgico que a bacante tocadora de pandeiro troca com o sátiro contrasta com a expressão intensa dos personagens principais. Como grande teatrólogo inglês William Shakespeare (1564-1616), Ticiano costumava incluir dramas secundários para tornar a história mais leve ou para reforçar o ema principal da obra.

O nome de Ticiano aparece, em latim, numa urna, no canto inferior esquerdo: “Ticianus F[ecit]”, ou seja, “Ticiano fez este quadro”. Ele foi um dos primeiros pintores a assinar suas obras e destacou-se por tentar elevar o status social e intelectual dos pintores.

Ticiano Vecellio, o maior pintor da escola veneziana, residiu em Veneza durante toda a sua vida, inspirado pela intensa luz e cor dos canais da cidade. Na sua época, Veneza era uma das cidades mais poderosas da Itália. Tendo patronos como o para e os reis da França e da Espanha, Ticiano foi um dos pintores mais bem-sucedidos de toda a História. O estilo notavelmente livre de sua maturidade teve muita influência sobre Velásquez.

Baco e Ariadne, 1522-23, óleo sobre tela, 175 x 190 cm, Ticiano, National Gallery, Londres.

pincel

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