O Jardim das Delícias, Hieronymus Bosch

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O Jardim das Delícias, Hieronymus Bosch
   

Bosch foi o último e talvez o maior dos pintores medievais. Sua visão da humanidade é pessimista e moralizadora: o ser humano carrega uma falha fundamental desde a expulsão de Adão e Eva do Jardim do Éden. Na filosofia de Bosch, a salvação é possível, porém com grande dificuldade e o destino provável da maioria das pessoas é a danação eterna. A morte e o medo da morte são uma realidade sempre presente na sua arte.

Provavelmente o maior artista da fantasia que já existiu. Bosch passou quase toda a sua vida na pequena cidade holandesa de ‘s-Hertogenbosch, da qual deriva o seu nome. A origem de seu estilo incomum não é clara, e tem pouca relação com Van Eyck ou Van der Weyden, os maiores pintores flamengos da época. Bosch alcançou um público amplo através de numerosas gravuras feitas a partir das suas pinturas, e suas obras eram avidamente colecionadas pelo rei Filipe II da Espanha. Contudo, Bosch não teve verdadeiro sucessor até o surgimento de Bruegel.

À falta de informação fidedigna sobre o tema e o destinatário, a mais enigmática e sugestiva obra de Bosch suscitou, com o passar dos tempos, diversas interpretações, do esoterismo à alquimia, da tradução de paisagens literárias à presumível vinculação do pintor a seitas heréticas.

A excepcional riqueza iconográfica concentra-se no painel central, que dá o título ao tríptico, mas os três painéis foram uma sequência: o ponto de partida é o Jardim do Paraíso terrestre, no painel da esquerda que mostra a criação de Eva. Porém, no mesmo momento e no mesmo lugar, adquirem vida criaturas monstruosas que compartilham com os homens a ilusória felicidade do painel central e que aparecem de novo, à direita, na demoníaca cena do inferno.

A continuidade da paisagem, através de singulares formações rochosas entre os dois primeiros painéis, uniformiza o lugar onde se desenvolvem os episódios fantásticos e sugere, dessa forma, que o desencadear da luxúria – o verdadeiro tema dominante, simbolizado pelo frutos vermelhos – é consequência direta da criação da mulher

A humanidade, surda às chamadas de Deus e irremediavelmente mergulhada no pecado, é castigada de forma horrível, segundo a lei do Talião com refinadas e sádicas torturas provocadas com instrumentos musicais sobre um fundo de fulgurantes clarões de uma cidade em chamas.

A lei de Talião, do latim lex talionis (lex: lei e talio, de talis: tal, idêntico), também dita pena de talião, consiste na rigorosa reciprocidade do crime e da pena — apropriadamente chamada retaliação. Esta lei é frequentemente expressa pela máxima olho por olho, dente por dente. É a lei, registrada de forma escrita, mais antiga da história da humanidade.

A composição da cena da direita é obtida pela sobreposição de planos com desenvolvimento circular; o último representa quatro construções fantásticas, nas quais elementos naturais se misturam com sólidos geométricos. Bandos de pássaros voam dentro e fora dos pináculos ornamentais das formações rochosas.

Entre os animais, há alguns – como o unicórnio – em cuja existência se acreditava, mas que não existiam; outros de que Bosch deve ter ouvido falar, mas nunca vira, como a girafa; as criações imaginárias, como um pássaro de três cabeças, embaixo junto ao lago.

No painel central, o pecado da luxúria é exemplificado por um par de amantes, transparente, excrecência de uma planta aquática. O tema próprio do alquimista como um antigo provérbio flamengo: “A felicidade é como um cristal que em breve se parte”. O tubo de cristal introduzido no fruto por baixo da bola é um emblema masculino, enquanto o rato nele entra alude às falsas doutrinas que levam os crentes ao engano.

Os morangos enormes representam os prazeres da carne. O pecado original da humanidade foi comer o fruto proibido. Na linguagem medieval, colher frutos significava fazer sexo.

No centro do jardim há um lago com mulheres que se banham, e em torno homens a cavalo. “Montar a cavalo” era uma metáfora para o ato sexual e a expressão “banho de Vênus” significava estar apaixonado.

No centro geométrico do tríptico há um ovo sobre a cabeça de uma cavaleiro. Juntamente com as bolhas, o vidro e as frágeis cascas de frutas, a ênfase recai sobre a fragilidade do prazer humano. A mensagem moral do quadro é que a beleza tem duas fases – é atraente, porém mortal; os prazeres deste mundo são um falso paraíso, e envolver-se neles em demasia leva à danação eterna.

No painel da esquerda, uma invenção diabólica composta por um par de orelhas atravessadas por uma flecha e por uma lâmina de faca. Os significados possíveis são inúmeros: para alguns, a indiferença do homem ao dito evangélico: “Quem tiver ouvidos para ouvir ouça”; para outros, pelo contrário, é a felicidade terrena. Sobre a lâmina esta gravada a letra M talvez a inicial do nome do fabricante ou então da palavra Mundus, emblema da universalidade do membro masculino que a lâmina faz referência.

No canto inferior direito uma criatura semelhante a um pássaro professoral devora vítimas humanas, e depois as defeca num poço de excremento e vômito. Este é o castigo para aqueles que incorrem no pecado mortal da gula. Note o enorme caldeirão que serve de chapéu para a criatura.

O Jardim das Delícias, 1500-05, óleo sobre madeira, painel central 220 x 195 cm, painéis laterais 220 x 97 cm, Hieronymus Bosch, Museu do Prado, Madri.

 

O trítico fechado: A Criação do mundo, óleo sobre tábua, 220 x 195 cm.

pincel

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3 comentários em “O Jardim das Delícias, Hieronymus Bosch”.

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  1. Esse quadro é cabuloso, fantastico e curioso. Elevou a imaginação fabulosa dos meus alunos e foi uma aula magnifica

  2. Magnifico, este quadro também nos dá uma noção de como esta nosso planeta terra, cheio de pecados, morrendo aos poucos. Mostra como nosso planeta esta sendo destruído pela raça humana.

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