Este quadro ainda permanece no mesmo local em que foi executado. A sacristia é o aposento, na igreja, em que os padres guardam e trocam suas vestimentas religiosas; por isso o tema é apropriado. Esta figura de Cristo, uma das mais nobres pintadas poe El Greco, evoca em sua postura os ícones bizantinos.
Esta representação não é freqüente dentro da tradição iconográfica ocidental, o que, no entanto, era usual no âmbito artístico bizantino.
A prisão de Jesus é representada aqui de forma peculiar, já que o artista incorporou uma série de figuras que não se mencionam na passagem concreta do Evangelho.
Esse é o caso do homem que, entre a multidão, aponta Cristo com o dedo. A mesma coisa acontece com as três Marias, situadas na margem inferior do quadro. O pintor introduziu ao lado delas um homem que trabalha sobre uma tábua, o que poderia ser interpretado como uma alusão simbólica a uma morte iminente.
O pintor colocou também um personagem vestido com um armadura. O anacronismo de sua vestimenta é bastante chamativo. Costuma-se associar esta figura com Pilatos e Herodes.
A interpretação livre que o pintor demonstra aqui pode-se dever a que ele desejava recolher vários momentos da Paixão num único episódio.
A multidão ocupa todo espaço da tela e não existe nenhum referente espacial, nem natural, o que contribui para criar uma atmosfera opressiva que acentua o seu dramatismo.
O esquema compositivo da obra vem determinado pela forma oval da figura de Cristo. A ele se dirigem os olhares da massa humana que o rodeia. Com esta disposição, o artista consegue uma sutil sensação de profundidade.
O colorido participa do espírito do tema. Da tonalidade ocre generalizada sobressai extraordinariamente um vermelho brilhante que condiciona o espaço do quadro e enfatiza o sentido da ação representada.
O Espólio é a primeira grande encomenda que El Greco recebe ao instalar-se em Toledo. Além da sua qualidade artística, o quadro também mostra o conflito suscitado entre o cabildo de Toledo e o próprio pintor.
Surgiram entre eles notáveis divergências no momento da valorização econômica deste trabalho. O artista não estava disposto a aceitar a quantidade de dinheiro que considerava suficiente o seu poderoso cliente. Este valorizou a obra em 250 ducados, enquanto que o representante de El Greco exigia 900. Finalmente, um terceiro especialista fixou a quantidade de 350 ducados, que foram entregues ao mestre.
Não foi a única vez que o pintor manteve fortes discrepâncias em relação à taxação final de suas obras, chegando inclusive a pleitos judiciais. O cretense se formara na Itália, onde os artistas tinham conseguido melhorar notavelmente seu status social. Não acontecia a mesma coisa em Castela, naquela época.
Agora que você sabe mais detalhes sobre esse quadro de El Greco, experimente fazer uma releitura dele ou crie uma imagem com muitos personagens em ação, usando o material colorido que você mais gostar.
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