A exposição apresenta quase cem trabalhos, que datam do século 1 ao 19.
Como o título indica, não se trata de uma única história, mas de muitas, narradas por meio de obras feitas por mulheres que viveram no norte da África, nas Américas (antes e depois da colonização), na Ásia, na Europa, na Índia e no território do antigo Império Otomano.
Uma das características mais fortes desta mostra é o diálogo que se estabelece entre pinturas e têxteis, escolhidos como um suporte emblemático — afinal, a pintura também é feita sobre tecido.
Com 60 pinturas, 2 desenhos e 34 tecidos de diferentes épocas e origens, Histórias das mulheres destaca trabalhos para além das categorias tradicionais das belas artes, procurando oferecer perspectivas mais amplas e mais plurais.
Embora não se conheça o nome das artistas têxteis, todas as peças expostas foram produzidas por mulheres.
Em muitas regiões do mundo antes de 1900, a criação de tecidos, feita manualmente, era considerado um trabalho de gênero e visto como o ideal das mulheres — da mesma forma que a pintura de belas artes era típica e idealmente feita por homens.
Colocar essas duas formas de trabalho juntas demonstra a persistência do fazer das mulheres ao longo do tempo.
Mesmo que os tecidos estejam excluídos das definições de arte, e de as mulheres terem sido barradas do treinamento nas academias, a exposição mostra que elas sempre fizeram arte.
Algumas artistas tiveram carreiras de grande sucesso.
Este é o caso das tecelãs da América pré-colombiana, que desfrutaram de uma posição de prestígio nas sociedades andinas, de Sofonisba Anguissola, que trabalhou para a corte espanhola no século 16, de Mary Beale, cujo marido foi seu assistente de ateliê, no século 17, de Elisabeth Louise Vigée Le Brun que ocupou o cargo de “primeira pintora” da rainha da França, no século 18, e de Abigail de Andrade, que ganhou uma medalha de ouro no Salão de 1884, no Brasil imperial.
Apesar disso, as mulheres representam um contingente muito menor que seus colegas homens nos manuais de história da arte, nas narrativas oficiais e nas coleções de museus.
O MASP possui em seu acervo apenas duas pinturas de mulheres artistas até 1900: um autorretrato da portuguesa Leonor de Almeida Portugal de Lorena e Lencastre e um panorama da baía de Guanabara, da inglesa Maria Graham, especialmente restaurado para esta exposição.
É difícil falar de histórias feministas antes do século 19, por isso falamos em histórias das mulheres.
Mas olhar para as artistas dessa época, hoje, nos ajuda a estabelecer genealogias feministas.
O encontro com essas várias precursoras — nomeadas ou anônimas, famosas e desconhecidas — nos convida, assim, a repensar as hierarquias da história tradicional, que costuma celebrar a arte como uma atividade de homens brancos e europeus.
A singularidade das obras expostas mostram que a arte é muito maior e mais complexa do que se costuma imaginar.
A mostra no MASP tem nomes como Sofonisba Anguissola (circa 1532-1625), Artemisia Gentileschi (1593-1653), Judith Leyster (1609-1660), Angelica Kauffmann (1741-1804), Elisabeth-Louise Vigée-Lebrun (1755-1842) e Eva Gonzalès (1849-1883), além de pioneiras latino-americanas como Magdalena Mira Mena (1859-1930), Abigail de Andrade (1864-1890) e Berthe Worms (1868-1937).
Curadoria: Julia Bryan-Wilson, curadora-adjunta de arte moderna e contemporânea; Lilia Schwarcz, curadora-adjunta de histórias; e Mariana Leme, curadora assistente, MASP
MASP – Avenida Paulista, 1578. Bela Vista. São Paulo. Horário: terça das 10h às 220h e de quarta a domingo das 10h às 18h. Até 17 de novembro.
Fique atento! Os horários podem ser mudados. Consulte sempre o site oficial da instituição.