Este retábulo feito por Grünewald foi encomendado para ser o centro do grande altar da capela do Mosteiro de Santo Antônio, em Isenheim, perto de Estrasburgo (hoje na França). No mosteiro também havia um hospital onde as vítimas da peste eram cuidadas pelos monges da Ordem dos Antoninos.
Na época, a peste era uma doença mortal e recorrente. As vítimas não tinham esperanças de recuperação, e esta imagem destinava-se a trazer-lhes consolo e reforçar a sua fé. A mensagem é que Cristo, com o corpo crucificado coberto de feridas como as da peste, compreende a condição dos doentes, sofre por eles e com eles.
A cruz de madeira está vergando ao suportar o peso de Cristo, aumentando a tensão emocional e a angústia da cena.
O fundo da pintura é negro e ameaçador. A escuridão caiu sobre a terra, tal como descrito no Evangelho (Marcos 15:33). Só foram incluídas as características essenciais à mensagem espiritual da Crucifixão, iluminadas por uma estranha luz.
São João era o discípulo favorito de Cristo. Em geral é representado nas cenas de crucifixão consolando Maria, mãe de Cristo.
O tamanho das figuras reflete sua importância. Assim, Cristo é o maior, Maria Madalena é a menor. Este recurso não era mais empregado pela maioria dos artistas – um dos motivos por que a obra é chamada de último grande retábulo medieval.
O painel à esquerda representa São Sebastião, que era invocado como protetor contra a peste. Sebastião foi um soldado romano que se converteu ao cristianismo. Como punição, foi amarrado a um pilar e cravado de flechas. Depois de sobreviver a esta provação, ele confrontou o imperador com uma renovada confissão de fé e foi condenado à morte. Note o estilo escultural da figura de Sebastião, tipicamente italiana. Ela mostra que Grünewald estava a par das realizações dos pintores italianos, mas escolheu conscientemente, seu estilo pessoal e contrastante para o painel central.
As figuras à esquerda, Maria, a mãe de Cristo, vestida de branco que simboliza a inocência, e São João Evangelista, a quem Cristo pediu que cuidasse da sua mãe, demonstram extrema angústia enquanto presenciam a agonia de Cristo. As vítimas da peste que se ajoelhavam diante desse altar decerto se identificavam com esta visão do sofrimento terreno e humano.
Maria Madalena é reconhecível pelo pote com bálsamo aos seus pés. Ela é a mulher pescadora que ungiu os pés de Cristo.
A agonia de Cristo é representada pelos pés quebrados, a pele coberta de pústulas e os braços tão esticados que parecem deslocados nas juntas. As mãos dele expressam sua intensa dos física e seu anseio espiritual. Observe também os gestos expressivos das mãos de todas as outras figuras do retábulo.
João Batista segura um livro que representa as Escrituras, que foram cumpridas com o sacrifício de Jesus – “o cordeiro de Deus”. O cordeiro que parece segurar uma cruz representa Cristo e seu sacrifício ao derramar seu sangue pela salvação da humanidade. Os Evangelhos nos dizem que João foi decapitado por Herodes muito antes da Crucifixão. Sua presença simboliza a mensagem da redenção da humanidade. As palavras latinas acima de seu baço dizem: “Ele deve aumentar, mas eu devo diminuir”.
À direita está Santo Antônio, o santo padroeiro da ordem religiosa que dirigia o hospital de Isenheim. Atrás de Santo Antônio, à direita, um demônio arrebenta a janela e transmite a peste pelo seu hálito venenoso.
INRI foi a inscrição em latim, Iesus Nazarenus Rex Iudacorum, colocada acima da cabeça de Cristo. A placa identificava o crime da pessoa crucificada. Aqui ela diz “Jesus de Nazaré, rei dos Judeus”, porque não foi encontrada nenhuma acusação legítima.
O painel colocado na moldura abaixo do painel principal de um retábulo se chama predella. Ele complementa a mensagem principal e aumenta o interesse, mostrando fatos adicionais que não estão no painel principal. A cena neste painel predella é a da Lamentação. O corpo de Cristo foi deposto da cruz e está sendo colocado no sepulcro. As duas Marias e São João Evangelista são reconhecíveis pelo painel principal. Note que a coroa de espinhos foi retirada e colocada aos pés de Cristo.
Nascido cerca do ano de 1470 com o nome de Mathis Gothardt, Grünewald foi o maior expoente da tradução gótica tardia. Teve sucesso como artista e também como engenheiro, e foi apreciado por seus serviços na corte do arcebispo de Mainz, na sua Alemanha natal. Contudo, foi afastado desse cargo em razão de sua simpatia pelos protestantes. Pintou pouco na fase posterior de sua vida, e morreu vítima da peste em 1528.
Agora que você sabe mais detalhes sobre esse quadro do artista Mathis Grünewald experimente fazer uma releitura dele ou criar uma cena religiosa com dramaticidade e no formato de um retábulo.
Fotografe seu trabalho e compartilhe sua experiência conosco, nas redes sociais, usando a #historiadasartestalento