Em que medida a arquitetura pode ser entendida como moldura de uma sociedade?
Quais os papéis desempenhados pela disciplina num contexto de urbanização?
Como ela se curva a eventuais pressões políticas, ideológicas ou mesmo sociais?
Essas são algumas das indagações que cercam e estruturam a obra de Carlos Garaicoa, artista multidisciplinar cubano que tem seu trabalho celebrado pelo Espaço Cultural Porto Seguro.
Com curadoria de Rodolfo de Athayde, a mostra Carlos Garaicoa: ser urbano reúne 8 trabalhos do artista.
Entre instalações, vídeos, fotografias, maquetes e desenhos, as obras apresentam a viagem criativa do autor, para quem a cidade tem papel fundamental.
O cubano constrói uma poética, onde coloca em contraste questões sociais, econômicas e políticas que impactam diretamente na formação das subjetividades e dos conhecimentos do mundo contemporâneo.
“A obra de Garaicoa é, literalmente, a construção física de modelos de espaços utópicos ou reais e a conjugação inusitada de símbolos que constituem também um agudo exercício de conhecimento dos fenômenos humanos, no seu contexto contemporâneo por excelência: a cidade moderna”, afirma o curador, destacando que a mostra ganha força em São Paulo, “uma cidade símbolo da utopia urbana e arquitetônica mundial”.
Para o artista, toda utopia é construída de modo a superar as limitações do presente.
Paradoxalmente, entretanto, ela já nasce carregando o prenúncio de sua própria superação.
O projeto de uma sociedade ideal entra em crise no instante em que se articula a um programa urbano grandiloquente.
Tais contradições são intrínsecas aos trabalhos de Garaicoa, que toma os fracassos do modernismo como agentes catalisadores de mudança e transformação social.
“Eu considero que a arquitetura é esse espaço onde posso discutir as ideias existenciais, políticas e históricas. Tenho um interesse muito grande pela fotografia e pela representação do espaço urbano em geral, porém tratando de encontrar outra problemática, mais próxima à ficção e à história”, afirma Carlos Garaicoa.
“Nessa deriva fui me aproximando da arquitetura e, por fim, necessitando trabalhar com arquitetos, em colaboração com uma equipe grande, tratando de convencê-los o tempo todo de que o que estamos fazendo é arte e não arquitetura”, completa.
A mostra abrange desde obras que se relacionam diretamente com o contexto cubano original do artista a produções feitas a partir do olhar de Garaicoa para as diferentes realidades do mundo, incluindo a brasileira.
Exemplo do primeiro caso é a instalação Fin del Silencio [Fim do silêncio] (2010), que traz um conjunto de tapeçarias que, somadas a duas projeções, estampam assinaturas de tradicionais estabelecimentos comerciais pré-revolucionários de Havana, capital de Cuba, significadas pelo artista.
Já Saving the Safe [Protegendo o cofre] (2017) conversa diretamente com o contexto brasileiro e apresenta uma escultura do Banco Central do Brasil em ouro colocada dentro de um cofre, fazendo alusão a um dos principais problemas da sociedade contemporânea na visão do artista: as crises geradas pelo mercado financeiro.
A exposição também traz a recente instalação Partitura (2017), uma das mais longas criações do artista, desenvolvida durante cerca de 10 anos com a participação de mais de 70 músicos de rua.
Espaço Cultural Porto Seguro
Alameda Barão de Piracicaba, 610 – Campos Elíseos – SP/SP
3226 7361
Horário: 3ª a sábado das 10h às 19h e domingo das 10h às 17h
Exposição até 6 de maio de 2018
Fique atento aos horários, podem sofrer modificações. Consulte sempre o site oficial da instituição.