O instituto dá prosseguimento ao projeto “Nossas Artistas”, uma sequência de mostras individuais dedicadas a mulheres que fizeram e fazem a história da arte brasileira.
Agora é a vez de Karin Lambrecht pintora gaúcha, egressa da geração 80.
Com curadoria de Paulo Miyada, a mostra reúne obras de diferentes momentos da carreira de Lambrecht: desde alguns desenhos realizados do início dos anos 1990 até pinturas mais recentes, que constituem a maior parte da seleção.
“Trata-se de uma oportunidade para gradualmente imergir no universo visual e reflexivo de uma artista singular na nossa arte, cuja obra oferece uma densa alternativa ao frenesi do consumo de imagens descartáveis que caracteriza os tempos vigentes”, comenta o curador.
As telas da artista sugerem particular interesse pelo transcendental, pelo espiritual e pelas religiões a partir de uma paleta obstinada em auscultar a natureza da linguagem dos mais diversos materiais.
Além das tintas, outros substratos pictóricos ocupam a superfície de suas pinturas, como ouro, mel, lona, cera de abelha, terra, grafite, linho, pigmento e pastel.
Segundo Miyada, a simples ampliação de recursos para além da trivial “tinta a óleo sobre tela” não seria digna de nota não fosse pela clareza e pelo escrúpulo com que cada matéria atua no campo pictórico.
“Mesmo que não seja sempre óbvio qual o material utilizado pela artista, é sempre possível distinguir quais signos, texturas, cores e formas correspondem a recursos distintos, manipulados com uma gestualidade adequada a sua dureza, peso e maleabilidade.
O princípio de acumulação dessas substâncias não é, portanto, o da mistura indiferenciada, mas sim o da articulação de órgãos em um organismo visual”.
A exposição constrói propositalmente um percurso.
O primeiro núcleo de trabalhos é constituído por sete pinturas realizadas entre 1990 e 2013 dispostas sob visibilidade tênue, resultante praticamente dos rebatimentos da luz.
Ao ultrapassar este ambiente, o visitante adentra uma clareira como uma ampla nave de fundo semicircular, onde a iluminação é projetada de tal forma que a resplandecência parece nascer das 17 pinturas suspensas, concebidas de 1990 a 2018.
“No vértice entre o desejo de saber e a necessidade de crer, alguém imagina uma clareira de silêncio”, escreve Miyada.
Na sessão final da exposição, ao atravessar uma cortina de voil, o espectador depara-se com um ambiente claro e branco ocupado por cadernos, desenhos e pequenas pinturas da artista. Um conjunto de temas, palavras e símbolos que refletem a escala íntima do contato com as obras.
“As próprias pinturas, desenhos e cadernos de Karin Lambrecht almejam ser laço e passagem. Presenças imanentes, quer dizer, materialidades que se inserem na experiência possível e compartilhável.
Evocações suprassensíveis, ou seja, chamados à contemplação de aspectos invisíveis da existência humana”, conclui o curador.
Instituto Tomie Ohtake. Avenida Brigadeiro Faria Lima, 201 – Pinheiros – São Paulo – SP. Aberto de terça a domingo, das 11h às 20h. Até 10/02/19.
Fique atento. Os horários podem ser alterados. Consulte sempre o site oficial da instituição.