O pintor Henrique Pousão (1859-1884) foi um artista singular na arte portuguesa do século XIX, que na sua breve carreira descobriu uma via original no estilo da pintura do Naturalismo, finalmente triunfante nas academias do Porto e de Lisboa no último quartel do século.
A sua pesquisa ampliou as possibilidades de um estilo que cedo se normalizara na descrição e na relação de temas ruralistas, abrindo-o a valores autônomos e a um cosmopolitismo que desenvolveu em contexto internacional.
Bolsista do Estado português no estrangeiro, a partir de 1880, nos três anos seguintes Pousão absorve com rara sensibilidade os estímulos dos diferentes locais onde estuda, em Paris, Roma, Nápoles e na ilha de Capri, reinventando com originalidade os modelos tradicionais da paisagem e da pintura de costumes.
É um percurso fulgurante que será interrompido com a sua morte precoce, aos 25 anos de idade, sem poder terminar o terceiro ano de estudos no estrangeiro.
Obra: Cecília
Em Cecília, o modelo italiano é interpretado por Pousão com profunda originalidade, fundindo-o com uma pintura de temática religiosa tradicional na Itália .
É uma obra que difere muito da pintura italiana contemporânea, que explorava um aberto sentimentalismo de caráter social.
Pousão pinta um retrato sensível de uma mocinha do povo, típica da Calábria, uma das muitas que vendiam flores na vizinha Piazza di Spagna e serviam de modelos aos artistas.
Em lugar de uma religiosa, vemos a moça ajoelhada no interior solene de uma igreja romana, interrompendo por um momento a leitura do seu livrinho de oração e fitando o observador.
Um olhar terno e resignado.
Encenado como um instantâneo fotográfico, todos os pormenores são pintados com minúcia e cuidadosamente dispostos, apelando a uma relação íntima com o observador.
A pintura é centrada na individualidade do modelo, como já indica o título da obra, que se expõe na frontalidade do seu olhar melancólico.
Em segundo plano observa-se o cuidado do pintor com as texturas da pintura, como o mármore da parede, a madeira da cadeira, o tecido.
Uma coluna sólida traz um sentido de guardião para a mocinha simples.
Pousão está nitidamente interessado em questionar o cliché do modelo típico italiano e explorar a sua individualidade, encenando-a num jogo de cumplicidade com o observador.
Esta obra está exposta até o dia 02/10/2017 na Pinacoteca do Estado de São Paulo, na exposição “Coleção em Diálogo” em parceria com o Museu Nacional de Soares dos Reis, da qual a respectiva obra faz parte do seu acervo permanente.
Que olhar encantador o pintor conseguiu expressar na sua obra.
Faça um exercício com vários tipos de intrigantes olhares, use o seu material de desenho/pintura preferido.
Estudo pronto, fotografe e compartilhe nas nossas mídias sociais #historiadasartestalento