A exposição ocupa o Octógono, sete salas do 1º andar e outros espaços da Pina Luz. Com curadoria de Jochen Volz e Valéria Piccoli, diretor e curadora-chefe do museu, respectivamente, a retrospectiva reúne 60 obras de um dos nomes mais proeminentes da escultura contemporânea.
Desde o início de sua carreira nos anos 1980, o artista vem produzindo obras que colocam em diálogo o espaço expositivo e as diversas dimensões do espectador.
A partir de uma compreensão singular da herança neoconcreta, Ernesto Neto (Rio de Janeiro, 1964), desdobra suas esculturas iniciais – elaboradas com materiais como meias de poliamida, esferas de isopor e especiarias – em grandes instalações imersivas, que propõem ao espectador um espaço de convívio, pausa e tomada de consciência.
Sua prática escultórica engendra-se a partir da tensão de materiais têxteis e de técnicas como o crochê.
Essas grandes estruturas lúdicas acolhem ações e rituais que revelam as preocupações atuais do artista: a afirmação do corpo como elemento indissociável da mente e da espiritualidade.
Desde 2013, o artista vem colaborando com os povos da floresta, principalmente a comunidade indígena Huni Kuin, também conhecida como Kaxinawá.
A população dessa etnia, com mais de 7.500 pessoas, habita parte do estado do Acre e forma a mais numerosa população indígena do estado.
“A turma da floresta tem uma ligação muito mais profunda com a natureza. Inclusive, a palavra natureza, como algo que está fora de nós, seres humanos, nem existe nessa comunidade. Eles não veem essa separação”, conta o artista.
“A convivência com eles me trouxe um entendimento profundo da espiritualidade, desta força de continuidade do ‘corpo-eu’ e do ‘corpo-ambiente’, e também uma base estrutural ‘espiritofilosófica’, além da compreensão de que há muito o que descobrir enquanto humanidade: quem somos? Onde estamos? Para onde vamos?”.
O entendimento do planeta como organismo interdependente permeia boa parte das obras de Neto.
Para a mostra na Pinacoteca, o artista concebe um trabalho inédito: a instalação Cura Bra Cura Tépara o espaço do Octógono, que acolhe quatro ações/rituais participativos abertos ao público ao longo do período expositivo.
Integra também o conjunto uma obra seminal em sua trajetória: Copulônia (1989).
De poliamida e esferas de chumbo, seu título faz referência à “cópula” (termo utilizado pelo artista para caracterizar um tipo de elemento, presente na obra, em que duas partes se penetram) e à “colônia” (seção da obra na qual os elementos se repetem).
“Traz a ideia de população, família, corpo coletivo e convivência simbiótica”, define Neto.
“Copulônia marca o momento em que Neto começa a pensar a escultura não mais como um único volume mas como um todo composto de partes.
Outras obras icônicas dele integram a seleção, como aquelas que contem especiarias (cravo, açafrão, urucum), as Naves (arquiteturas de tecido em que o visitante é convidado a entrar) e mesmo as mais recentes estruturas habitáveis confeccionadas em crochê.
As obras do Neto convocam a participação do visitante e ativam outros sentidos além do olhar”, comenta Piccoli.
A exposição propõe demonstrar como a fisicalidade, o indivíduo e o coletivo sempre estiveram presentes, desde o início, na prática do artista, moldando sua poética.
Sua colaboração atual com líderes políticos e espirituais das nações Huni Kuin, cujas contribuições ao artista recebem na mostra uma sala própria, aparece como uma consequência natural de sua pesquisa escultórica. “Neto vem explorando e expandindo os princípios da escultura radicalmente desde o começo de sua trajetória.
Gravidade e equilíbrio, solidez e opacidade, textura, cor e luz, simbolismo e abstração ancoram sua prática, num contínuo exercício acerca do corpo individual e coletivo e da construção em comunidade”, observa Jochen Volz.
Esta é também a primeira exposição que propõe traçar seus primeiros experimentos nesse campo através da investigação e da apropriação do espaço expositivo até atingir seu atual engajamento social.
Num momento marcado pelo descompasso entre humano e natureza, Neto propõe que a arte seja uma ponte para a reconexão humana com esferas mais sutis.
“O artista é uma espécie de pajé. Ele lida com o subjetivo, com o inexplicável, com aquilo que acontece entre o céu e a terra, com o invisível. Desse lugar, consegue trazer coisas”, finaliza Neto.
A mostra é acompanhada de um catálogo – Ernesto Neto: Sopro integra a programação de 2019 da Pinacoteca, dedicada à relação entre arte e sociedade.
Pinacoteca de São Paulo. Praça da Luz 2, São Paulo, SP. Aberta de quarta a segunda, das 10h às 17h30, permanência até as 18h. Aos sábados, a entrada é gratuita. Até 15/07/19.
Fique atento! Os horários podem sofrer modificações. consulte sempre o site oficial da instituição.
Uma resposta
Adorei tudo