Em 1519, Rafael Sanzio demonstrou seu profundo interesse pela Antiguidade clássica dando uma refinada prova de sua atenção à arqueologia na decoração da pequena galeria ou Loggetta do Cardeal Bibbiena, um ambiente no terceiro andar do Palácio Apostólico no Vaticano.
Faz parte do complexo de galerias que foram projetadas por Bramante como uma perspectiva para o antigo palácio de Niccolò III, a pedido de Júlio II, com a continuação dos trabalhos sob Leão X e a supervisão de Rafael após a morte do arquiteto.
A primeira galeria a ser decorada, entre 1518 e 1519, foi a do segundo andar, ao lado do apartamento papal. É uma galeria comprida (65 metros de comprimento por cerca de 4 metros de largura), onde os vários estudantes de Sanzio trabalhavam, às vezes baseados no desenho do mestre, que na época estava muito ocupado com o canteiro de obras da Basílica de São Pedro. A galeria faz fronteira, no lado oposto ao do pátio, com a Sala di Costantino e a Sala dei Palafrenieri.
Lá ele fez uma excepcional reinterpretação e recuperação do estilo de dois ciclos decorativos antigos encontrados nas antigas casas romanas. Esta pequena galeria situada próxima a Stuffeta do cardeal Bibbiena, que possui similar decoração, está dividida em treze arcadas cobertas, cada uma delas, por uma pequena abóbada.
As pilastras, as abóbadas e as paredes estão inteiramente revestidas de pequenos motivos que representam artesãos, figurinhas isoladas ou em grupos, motivos arquitetônicos e vegetais, e reproduções de estátuas célebres e de animais. Nas lunetas aparecem episódios mitológicos sobre um fundo negro, assim como no rodapé que alterna estas cenas com ornamentos geométricos.
A invenção decorativa pertence à Rafael e a realização ficou a cargo dos seus discípulos Giulio Romano, Giovan Francesco Perin, Perin del Vaga, Giovanni da Udine e outros ajudantes.
Na Logetta ele utiliza, pela primeira vez, as figuras sobre um fundo branco, em todas as paredes, os “grutescos”. Estes eram motivos decorativos compostos por objetos, personagens ou animais quiméricos misturados com elementos vegetais e geométricos de caráter ornamental, procedentes da decoração romana, descobertos em edifícios romanos que ao encontrar-se nas escavações abaixo do nível do solo receberam o nome de grutas.
Durante o Renascimento, a admiração dos humanistas pelo classicismo levou a um frutífero interesse pela arqueologia que se manifestou mais intensamente no fim do século 15, quando tiveram lugar numerosas descobertas.
Uma das mais relevantes foi o descobrimento da Domus Aurea, a que foi a luxuosa residência de Nero, que estava cheia de afrescos, que constituíram as primeiras manifestações coloristas clássicas conhecidas pelos artistas renascentistas.
Rafael inspirou-se nestas e foi o primeiro em adotar este tipo de ornamentação na Loggetta do Vaticano, originando, com isso, o nascimento de um novo estilo decorativo de grande fortuna que se estenderia rapidamente por todas partes.