Santa Margarida da Antióquia, Francisco de Zurbarán

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Santa Margarida da Antióquia, Francisco de Zurbarán
   

A produção em série de figuras santas constitui, talvez, a página mais sedutora da arte de Francisco Zurbarán.

Infelizmente, estes quadros foram desmembrados no decurso dos séculos, e, dessa forma, perdeu-se o sentido original de uma mística procissão de jovens fascinantes, dispostas ao longo das naves das igrejas ou dos corredores dos conventos, todas em formato idêntico e, frequentemente, de traços parecidos, Santa Margarida de Antioquia é representada sem auréola e com as feições de uma verdadeira mulher, com o traje de uma pastora elegante, levando os característicos alforges espanhóis de lã, um livro, alusão à sua erudição religiosa, e o bastão de pastora: quase confundido com o fundo, encontra-se o dragão da lenda.

Provavelmente realizada antes da partida do artista da sua terra natal, Sevilha para Madri, em 1634, a obra esculpe a imobilidade e a sólida plasticidade das formas, uniformemente iluminadas de cima. À estática peregrina, fixada numa pose absorta e com um olhar carregado de sugestões, Zurbáran conferiu um toque de sutil melancolia.

Legenda áurea

Legenda áurea é uma reunião de biografias de santos escritas no século 13 com a intenção de difundir valores morais edificantes e arregimentar um maior número de fiéis para a Igreja Católica. O objetivo imediato do autor, Jacopo de Varazze, era fornecer aos frades material para elaboração de sermões, de modo a proporcionar uma pregação mais eficiente. A coletânea conheceu enorme sucesso na Idade Média e se tornou referência nos estudos religiosos.

Até o final do século 15, Legenda áurea era uma obra de enorme popularidade e, durante anos, foi mais editada do que a própria Bíblia. Hoje, são conhecidos quase 1100 manuscritos do texto. O autor da obra nasceu em 1226 na pequena cidade de Varazze, próxima a Gênova, e chegou a arcebispo, nomeado pelo papa Nicolau IV. Jacopo de Varazze morreu em 1298, reconhecido pelos seus pares e admirado por seus conterrâneos.

Segundo a Legenda áurea, Margarida nasceu em Antioquia da Pisídia e era filha de um sacerdote pagão chamado Aedesius. Renegada pelo pai por causa da sua fé, foi viver com uma mãe adotiva na Ásia Menor, atual Turquia, sendo pastora de ovelhas. Olybrus, o governador, fascinado com a beleza da jovem, propôs-lhe casamento, em troca da sua renúncia ao cristianismo. Não ocultando que era cristã, o governador decidiu então entregá-la aos cuidados de uma mulher nobre. Detinha a esperança que esta a convenceria a renegar Cristo. Mas, Margarida manteve-se firme e negou-se a oferecer um sacrifício aos ídolos.

Encarcerada por não aceitar aos pedidos do governador, submeteram-na então às mais terríveis torturas, entre as quais se contam o açoitamento com varas, o cortar do seu corpo com tridentes, o cravar de cravos e a sua laceração por meio de um gancho.  Diz-se que, engolida por Satanás (que assumira a forma de um dragão), ela rasgou a pele do mesmo com um crucifixo que possuía, saindo então, de dentro do animal. Seja isto verdade ou não, Margarida é então condenada à morte no ano de 304.

A sua lenda, descrita pelos cruzados diz que morreu decapitada, sem precisar se ter perdido a sua virgindade, mas permaneceu no imaginário popular como modelo de virgem consagrada.  As suas relíquias encontravam-se em Constantinopla até à tomada da cidade pelos cruzados no ano de 1204.

Santa Margarida da Antioquia, 1630-34, óleo sobre tela, 163 x 105 cm, Francisco de Zurbáran, National Gallery, Londres.

pincel

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