O painel representa o início da batalha ocorrida em 1432 entre florentinos e sienenses perto de San Romano; outros dois episódios, o ferimento do comandante-chefe de Siena, Bernardino della Carnia, e a intervenção de Cotignola, estão hoje conservados nos museus Uffizi e no Louvre.
Este quadro foi encomendado na década de 1450 por Piero de Médici para o recém-construído Palácio Médici, em Florença. Foi um período de ouro para Florença; obtendo sucesso na guerra e na diplomacia, os florentinos também experimentavam novas ideias em quase todos os campos: comércio e bancos, ciência e tecnologia, arte e literatura.
A pintura de Uccello capta esse espírito, retratando o dramático tema, introduzindo a perspectiva moderna e demonstrando um apaixonado interesse pela observação das formas e movimentos de pessoas e animais.
Os artistas que no início da Renascença eram considerados pouco mais que artesãos, dependiam de favor dos nobres mais cultos. Cenas de batalha e torneiros de cavalaria eram temas populares, com frequência representados em tapeçarias – uma arte considerada por muitos superior à pintura.
A representação procede da esquerda, onde a densa fileira dos combatentes ergue para o céu uma selva de lanças, de estandartes, de trompas, para se aclarar ao centro, com a figura do comandante-chefe florentino Niccolò da Tolentino, amigo e aliado dos Médici, que transporta o estandarte com o brasão dos nós de Salomão.
Ele exibe um pomposo chapéu vermelho e dourado. Naturalmente ele não iria usar um chapéu tão pouco prático numa batalha; mas Uccello adornou o herói do quadro para realçar o aspecto de pompa e cerimônia.
À direita, o ritmo da narração concentra-se no duelo em que se emprenham três guerreiros contra um: o da extrema direita, impossibilitando de movimentar-se, ergue o machado de encontro às contas do terceiro, enquanto o seu cavalo empina.
Os artistas desse período tinham dificuldade em representar o plano médio, Uccello evitou o problema colocando uma cerva viva entre o primeiro plano e o plano mais distante. A cerca era ornamentada com rosas vermelhas e brancas e exuberantes laranjas e romãs. Dessa forma, a sebe florida limita a extensão da zona do primeiro plano, onde lanças quebradas, escudos e fragmentos de armaduras se cruzam numa retícula que exalta a tridimensionalidade e evoca as formas ortogonais de um pavimento em perspectiva.
A espacialidade é sugerida pelas lanças erguidas dos cavaleiros e o volume dos corpos é tratado como simples sólidos geométricos inseridos numa rígida estrutura perspectivista.
A arte da perspectiva é pura geometria e não deixa espaço para a imitação naturalista. Por isso, os cavalos, mais do que belos exemplares de combate, assemelham-se aos que se utilizam nos carrosséis. Os ornamentos dourados que se destacam nos arreios dos cavalos são, de fato altos-relevos em ouro aplicados sobre a superfície do quadro.
O pintor também revela o gosto pelo tecidos adamascados, os acabamentos das brilhantes decorações e os metais bem trabalhados, pintados com pasta de ouro e de prata.
Paolo di Dono era seu nome verdadeiro. Uccello (pássaro, em italiano) era devido ao seu amor pelos animais, que ele desenhava sem cessar. Na década de 1430 ficou fascinado pelo perspectiva e concentrou suas energias nesta disciplina que começava a surgir. Recebeu muitas encomendas de prestígio, mas a obsessão pela perspectiva o levou a uma velhice solitária e excêntrica.
Agora que você sabe mais detalhes sobre esse quadro de Paolo Uccello, experimente fazer uma releitura dele ou criar uma composição que transmita um episódio histórico de modo teatral.
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