O título data apenas do século 19 e pouco diz sobre o significado desta tela que se transformou em perene desafio a análises e interpretações. O cenário é o estúdio do artista: a Infanta Margarida-Teresa, a filha de cinco anos do rei Felipe IV da Espanha, está no centro da tela, cercada por suas damas de honra, um casal de criados, uma anã e uma criança.
O reis Felipe IV e a rainha Mariana da Áustria aparecem refletidos no espelho, bem atrás da cabeça da infanta, e são os modelos que o pintor mira orgulhoso diante do grande cavalete, no último e mais belo de seus autorretratos. Olhando os soberanos, na verdade o pintor olha para o espectador que contempla sua tela. Ao autorretratar-se enquanto pinta o quadro com o par real, Velázquez propõe o tema do quadro dentro do próprio quadro e é atraído para o interior de um jogo labiríntico entre os espaços interior e exterior.
A imagem do rei e da rainha no espelho tem suscitado muitas controvérsias. Alguns acreditam que represente os soberanos posando para o artista. Outros, apenas o reflexo de um retrato pendurado na parede oposta. Mas não há documentação a respeito de nenhuma tela como esta de autoria de Velázquez. Qualquer que seja a interpretação, o espelho é um hábil recurso para sugerir a presença dos soberanos.
Os demais planos são gradualmente mais opacos e estão submersos em distâncias criadas pelo movimento da luz. Esta obra também aponta para o futuro, porque Velázquez conferiu à luz um papel de destaque, antecipando assim a questão fundamental dos impressionistas.
A anã Mari Bárbola aparece no canto direito da tela. Os traços pesados dela criam um patético contraste com a delicadeza da infanta. O outro anão é Nicolás de Pertusato, que apoia o pé nas costas do cão tranquilo, fato que indica familiaridade e despreocupação em relação a tudo o que o rodeia, como se no palácio fosse normal assistir às sessões de pintura de Velázquez. Os retratos dos bobos da corte formam um núcleo importante da produção retratística do pintor e serão muito admirados por Goya e Manet.
As mãos do artista parecem que se movimentam com rapidez entre a paleta e a tela. A Cruz da Ordem de Santiago em seu peito é uma adição posterior, pois sta honraria lhe foi concedida em 1659.
No vão da escada, que abre para um novo espaço para além da composição, enquadra-se uma figura parada no meio dos degraus. Trata-se de José Nieto, primeiro-chefe tapeceiro da rainha e futuro hóspede-mor do palácio. Um outro jogo de ilusões, de imagens que se entrecruzam.
Velázquez é um dos maiores pintores de retratos de todos os tempos, e este quadro é considerado a obra-prima de seus últimos anos. Foi pouco influenciado por outros artistas, embora em 1623 tenha sido nomeado pintor da corte de Madri e tenha entrado em contato com as obras de Ticiano da coleção real espanhola. Também encontrou Peter Paul Rubens, que compartilhou seu estúdio por algum tempo e que, segundo se acredita, inspirou Velázquez a visitar a Itália.
Velásquez era um profundo e sensível apreciador de caracteres. Essa obra barroca se caracteriza pela harmonia de cores e tons e por sua combinação única do realismo com a atmosfera.
Até hoje essa obra é objeto de estudo de muitos artistas: Picasso executou uma série de desenhos e pinturas, que se encontra no Museu Picasso, Barcelona.
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