Exposição Linhas da Vida | Chiharu Shiota | CCBB SP

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Exposição Linhas da Vida | Chiharu Shiota | CCBB SP
   

A transitoriedade dos ciclos da vida, a memória e a própria experiência pessoal inspiram a obra da japonesa Chiharu Shiota. Conhecida principalmente por seus trabalhos site specific em grande escala, frequentemente compostos por emaranhados de linhas, Shiota é autora de uma obra multidisciplinar, desdobrada em suportes diversos: são instalações, performances, fotografias e pinturas.

A artista terá sua extensa obra celebrada na mostra retrospectiva Linhas da Vida, com curadoria de Tereza de Arruda e produção da Base7 Projetos Culturais, a exposição também será exibida nas unidades do CCBB em Brasília (03 de março a 10 de maio de 2020) e no Rio de Janeiro (10 de junho 06 a 31 de agosto 08 de 2020).

Nascida em Osaka e radicada há 23 anos em Berlim, Shiota iniciou sua carreira artística em 1994, tomando a pintura como principal suporte.

Todavia, logo descobriu que o espaço bidimensional era limitado para seu processo criativo e expandiu para as outras linguagens.

Linhas da Vida reúne cerca de 70 obras que datam desde o início de sua produção artística aos dias atuais.

“Há certos motivos que acompanham Chiharu Shiota por toda sua carreira e surgem paralelamente em sua produção, a exemplo de objetos pessoais como chaves, vestuário, cartas, mobiliário e, ainda, elementos ícones da transitoriedade, como barcos”, explica a curadora.

“Fotografias, vídeos, desenhos, gravuras e objetos foram selecionados meticulosamente para uma imersão no universo de Chiharu Shiota”, completa.

Obra “Life Line” de Chiharu Shiota

Organizada em cinco núcleos, a exposição é um convite de Shiota para que o visitante faça reflexões sobre a vida, seu propósito, conexões e memória.

“Quero unir as pessoas no Brasil, não importando sua origem, status social, formação educacional, nacionalidade ou qualquer outro fator divisor. Como humanos, devemos vir juntos e questionar o nosso propósito na vida e por que aqui estamos”, afirma a artista.

Já no térreo, o público vai se deparar com a grande instalação Além da Memória (2019), obra inédita, que poderá ser vista a partir de todos os andares.

A inspiração vem da diversidade do povo brasileiro e de um diálogo com a arquitetura monumental e histórica do CCBB-SP.

Suspensa, com 13m de altura e em forma de uma espécie de nuvem, a instalação é composta por mais de mil folhas de papel em branco.

É um convite para que o público idealize sua própria história e resguarde sua memória.

Os destinos da vida são questões recorrentes no processo de criação de Shiota e nas obras que ocupam o subsolo do CCBB-SP.

Ela tece as linhas de sua vida e convida o público a fazer o mesmo.

Essa é a ideia presente em Linha Vermelha (2018), obra que lança luz à produção manual da artista, uma de suas principais características.

Em outro momento, dois barcos escuros surgem em meio a emaranhados de cordas vermelhas como alusão aos caminhos da vida.

Trata-se de Dois barcos, um destino (2019), uma metáfora da artista sobre as formas de avançar, viajar, sem necessariamente saber qual é o ponto final, tal qual o percurso da vida.

“Os barcos simbolizam os portadores de nossos sonhos e esperanças, levando-nos através de uma jornada de incerteza e admiração”, diz Arruda.

Chiharu divaga sobre a ideia de uma conexão universal de todos os seres.

Transforma sua história em uma linguagem artística de caráter singular, sublime e tomada de elementos triviais.
É disto que nasce o conjunto de esculturas e edições organizados em Conectada com o universo (2016 – 2019), núcleo exibido no primeiro andar do CCBB-SP.

As gravuras aqui expostas têm como ponto de partida um ser conectado ao universo por um fio, espécie de cordão umbilical simbolizando o início da vida antes mesmo do nascimento.

Em outras obras, a artista sugere que este mesmo ser se vê imerso ou submerso em um buraco ou invólucro sem perspectiva de saída e, assim, sua conexão com o mundo externo passa a ser realizada por vias imaginárias ou mesmo espirituais.

A presença do hermetismo não é ao acaso.

Em dado instante de sua trajetória, Shiota tomou uma decisão existencial e parou de pintar – na época, seu principal suporte – porque não sentia que sua vida e sua criação artística estavam conectadas, entrelaçadas.

Sonhou que se via dentro de uma pintura e foi assim que concebeu a icônica performance Se transformando em pintura (1994), cujo registro é exibido no segundo andar.

A tinta usada por Shiota nesta performance era tóxica e a artista sentiu imediatamente sua pele queimar e o pigmento só desapareceu de sua pele depois de alguns meses.

Passados cerca de 20 anos, a artista voltou a utilizar a tela, porém não como um suporte pictórico convencional, mas, sim, como suporte de sua assinatura pessoal, sobre a qual aplica a trama de lã originariamente utilizada em suas instalações.

Ainda no segundo andar, a artista exibe A chave na mão (2015), instalação que esteve na 56ª Bienal de Veneza, na qual Chiharu representou seu país no pavilhão do Japão.

A obra é composta por dois barcos que lembram, segundo a artista, duas mãos receptoras prestes a agarrar ou deixar de lado uma oportunidade, postos em um emaranhado de 180 mil chaves.

“O montante foi coletado por Shiota em uma campanha internacional, ato que a comoveu porque as pessoas normalmente dão suas próprias chaves aos outros em quem confiam. E para artista, as chaves estão associadas a memórias pessoais que nos acompanham em nossas vidas cotidianas”, conta Tereza de Arruda.

A lã vermelha usada para montar a trama que emaranha os barcos simboliza os vasos sanguíneos do corpo e conecta a multidão dos proprietários das chaves.

Obra “A Chave na Mão” de Chiharu Shiota, que faz parte da exposição no CCBB SP

No último andar do CCBB-SP, um núcleo de trabalhos pautados no Corpo, tema que aparece desde os primórdios na criação de Shiota.

São obras em que a artista investiga questões ligadas à identidade, memória, corpo, fragilidade e doenças.

“O trabalho de Shiota evolui a partir de uma dinâmica orgânica de fazer e criar. Nota-se aqui que dentro de uma mesma temática há uma abrangência de obras distintas, como filmes resultantes de performances intimistas, tendo a artista como única protagonista em um relato pessoal, objetos compostos de roupas, que na perspectiva de Shiota existem como uma segunda pele humana a carregar em si os traços e vestígios da experiência humana e memória aí vivenciada, ou ainda objetos de vidro representando órgãos do corpo humano sãos ou dilacerados. Estes gestos e objetos artísticos referem-se à vida humana de forma geral”, finaliza a curadora.

Simultaneamente à retrospectiva no CCBB-SP, Chiharu Shiota expõe na Japan House São Paulo a mostra Internal Line, composta por um site specific que representa a memória como tema central.

 

Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo – CCBB SP. Rua Álvares Penteado, 112. Centro. São Paulo -SP. Entrada Gratuita. Até 27 de janeiro 2020.

Fique atento! Os horários podem sofrer alteração. Consulte o site oficial da instituição.

 

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